Aventuras de uma mãe solo na TI

Meu nome é Dalcilene, mãe solo da Ester e de 3 gatos bagunceiros, sou formada em Análise e desenvolvimento de sistemas e pós graduanda em Engenharia de software, atuo como Analista de qualidade de software sênior e vou dividir com vocês um pouco sobre como foi começar a carreira de TI depois dos 30.

Dalcilene com capa e cachecol da Sonserina à direita e Ester com capa e cachecol da Grifinória à esquerda, em frente a uma parede pintada com as cores e uma bandeira das casas Grifinória, Corvinal e Lufa-Lufa.
Mais que mãe e filha, amigas.

O início de tudo

Minha jornada pela TI começou em 21/10/2015, nesse dia eu terminei um relacionamento de 13 anos, na época eu trabalhava como telemarketing para completar a renda da casa, mas nunca tive a pretensão de ter uma carreira, então quando o casamento acabou eu fiquei bem perdida, porque com um salário mínimo não se sustenta uma casa, ainda mais com criança. Eu tenho uma filha que tinha 9 para 10 anos na época .

Então minha melhor amiga me levou pra comer misto-quente e entre uma lágrima e uma mordida, porque eu não sou o tipo de pessoa que perde a fome quando está triste, começamos a traçar um plano. Para ter uma carreira melhor era preciso ter uma formação melhor que o ensino médio, que eu tinha terminado há 10 anos e nunca mais estudei.

Eu sempre quis fazer psicologia, mas não queria esperar 5 anos para me formar, então eu lembrei que meu ex-marido sempre falava pra eu testar o que ele desenvolvia e tinha falado que eu poderia trabalhar na empresa que ele tinha trabalhado porque eu era muito detalhista.

Então o resultado do plano foi: vou fazer um curso tecnólogo de 2 anos (doce ilusão de que eu iria me formar em dois anos), vou arrumar um estágio na Thomson Reuters e depois peço emprego na antiga empresa que ele trabalhava.

Faculdade

Em primeiro de fevereiro de 2016, a coordenadora do curso deu a primeira aula e fez a clássica pergunta, por que você escolheu esse curso e eu respondi: Porque eu vou fazer estágio na área de testes na Thomson Reuters.

Como eu não tenho família próxima e não ganhava bem o suficiente para pagar a babá pra ficar com a minha filha na parte da noite, então ela assistia a todas as aulas comigo. Eu sou imensamente grata a minha coordenadora e ao Vianna Jr pela empatia e solidariedade ao permitirem isso, sem esse apoio talvez nada disso aqui hoje fosse possível.

Cinco pessoas em pé vestidas com blusa vermelha fazendo pose para foto. No meio está Dalcilene sorrindo. Ao fundo um mural branco.
Minha turma da faculdade.

Minha rotina era basicamente levar a minha filha pra escola, trabalhar, buscar ela em casa e ir pra faculdade. Em julho de 2017 surgiu processo seletivo na Thomson Reuters para área de testes, fiz a minha inscrição e depois de um longo mês o telefone tocou, fui chamada pra entrevista com o gestor e eu saí pulando no meio da rua de tão feliz.

O estágio

No dia marcado, foram feitas as perguntas normais de entrevista até que a gestora falou que pra área de testes só tinha uma vaga e para área de desenvolvimento tinha duas. Ela perguntou também se eu tinha certeza se queria realmente trabalhar com testes e eu falei que só precisava de uma vaga, que nasci para ser QA e que só tinha demorado um pouco para descobrir. Eu também nunca tinha feito um teste, mas sabia que era aquilo que eu queria para a minha vida, era um chamado que vinha de dentro. Saí da entrevista com uma dúvida: ou a gestora me amou ou me achou super arrogante.

Mais uma semana de ansiedade e me chamaram pra fazer uma prova, foi bem difícil e eu gastei até o último segundo pra terminar. Houve mais duas semanas de espera e eu recebo a notícia que mudou tudo, eu passei. Não sabia se ria ou se chorava, na dúvida fiz os dois ao mesmo tempo pra não ter erro.

No dia 09/10/2017 comecei no estágio e eu tive um anjo que me ajudou desde o primeiro instante que me ensinou desde a passar o crachá para abrir a porta até os efeitos que o retorno de saturno podem ter sobre a sua vida. Fiz muitos treinamentos e na minha segunda semana fiz o meu primeiro teste automatizado e foi uma sensação maravilhosa ver aquele check verde.

Base de um monitor preto, um boneco de neve branco com gorro e cachecol vermelhos e um circulo azul escrito Thomson Reuters em branco.
Minha mesa decorada para meu primeiro Natal na empresa.

Eu comecei fazendo a refatoração de testes antigos para o novo padrão que estava sendo adotado na empresa, eu fiquei nessa função até fevereiro e até ganhei um café com a minha gestora Michely por ter feito um bom trabalho. Lá pro meio de fevereiro eu comecei a ajudar nos testes de regressão e só quem viveu a release 6.0 sabe o tamanho da demanda. Em abril eu comecei a ajudar no roadmap e foi uma época de grande aprendizado, porque é muito diferente mudar algo que já existe e criar um teste de uma funcionalidade que ainda não existe à partir do requisito.

A primeira oportunidade como analista de testes

24 homens e Dalcilene ao centro na frente de uma parede branca e atrás de mesas e cadeiras.
Time da Relevo na festa de inauguração da sede nova.

Em setembro de 2018, numa quinta-feira, estava na cozinha conversando com o Gustavo, que na época era funcionário da Relevo, uma das terceirizadas da Thomson. Ele falou que havia se formado no Vianna dois semestres depois de eu entrar e que sabia dos meus perrengues. Foi então que comentei o quanto eu queria uma vaga como funcionária, o quanto a diferença de salário iria mudar as coisas para mim e ele me perguntou se eu queria que ele me indicasse na Relevo.

Eu quase não acreditei em como as coisas aconteceram rápido.

Na sexta, o gestor da Relevo me ligou, na segunda pedi a rescisão do meu contrato de estágio e na terça já era funcionária da Relevo. Continuei fazendo basicamente o que eu fazia como estagiária, mas com mais responsabilidades, já que agora eu era analista de testes de software.

A jornada na Rock Content

Em setembro de 2019 recebi um convite para participar de um processo seletivo. Eu o aceitei, foram várias etapas e em novembro veio o meu SIM.

Comecei na Rock Content em dezembro de 2019, com um onboarding em BH, sendo a primeira vez que fiquei tantos dias longe da minha filha. Ela ficou na casa do pai e, ao mesmo tempo que a saudade apertava, estava vivendo um sonho, pois a Rock é um lugar incrível e foi a primeira empresa com cultura que funcionava que eu tive contato, tinha muita coisa legal e conheci pessoas muito especiais por lá.

Na sexta, tivemos um almoço especial para comemorar o fim do onboarding e eu me sentei perto do Fafa, que é patrimônio da Rock, e a gente estava falando sobre livros, sobre a vida e eu falei da saudade que estava da minha filha. Ele falou que na próxima vez que eu precisasse ir em BH, bastava conversar com o RH que ela poderia vir comigo, porque a Rock é uma empresa family friend.

Voltei para Juiz de Fora e comecei na Rock Jf. Conheci o João, que era QA lá e a gente tinha muita sintonia, pois as ideias se completavam. Ele é muito engajado com as novidades e estava sempre trazendo uma ideia nova e foi ele quem me apresentou o canal do Júlio de Lima. Daí em diante minha vida mudou da água para o vinho, porque é impossível ouvir o Júlio falando sobre uma assunto e não ter vontade de conhecer mais. Então realmente comecei a estudar sobre testes com base nos conhecimentos compartilhados pelo Júlio.

2020 chegou chegando e em fevereiro eu tive minha primeira colação de grau.

A direita Dalcilene de beca azul e à esquerda Ester de vestido azul, nós duas juntas seguramos o canudo que recebi na colação de grau e na minha mão direita seguro um balão vermelho em formato de coração escrito “Filha, meu diploma é seu!”.
Minha colação de grau com a minha filha Ester.

No início de março eu me certifiquei na CTFL e então veio meu primeiro feedback na Rock. Foi simplesmente uma “voadora com os dois pés” do meio do peito. Achava que estava arrasando, mas não foi bem assim. Recebi sim, vários elogios, mas o feedback que mudou a minha vida veio a seguir.

Eu era muito dura para me expressar e aquilo caiu em mim como uma bomba e me fez refletir sobre todas as vezes que precisei me impor na família, na faculdade e algumas vezes até em empregos anteriores. Aquela forma de falar não era grosseira e sim uma necessidade que me foi imposta para ter minha voz ouvida, mas ali eu não precisava mais disso, porque eu tinha voz e importância de qualquer outra voz.

Como eu não conhecia outra forma de me comunicar, eu comecei a estudar através de livros, vídeos, conversando com as pessoas mais próximas de mim e pedindo muito feedback.

Em março a pandemia chegou com força no Brasil e fomos todos para o home office. Naquela época imaginávamos que a quarentena iria durar quinze dias, como éramos inocentes.

Sempre tive aversão ao home office e como moro apenas com minha filha, sair para o trabalho era uma oportunidade de conversar com pessoas diferentes, mas me surpreendi totalmente com esta realidade e a cada dia amo mais o home office.

No dia 06/04/2020, entrei em uma reunião que mudou tudo: fui demitida. A Rock precisou desligar 20% dos funcionários e nesse dia eu perdi a fome de tanto chorar.

O TSPI

Mas lágrimas e lamentos não levam ninguém a lugar algum e era necessário traçar um novo plano para conseguir um novo emprego. Naquela semana, estava encerrando as inscrições de um curso do Júlio, o TSPI (Testes de Software para Iniciantes) e enviei vários currículos nesse meio tempo também. Não tirei um dia de descanso no período em que estava desempregada, pois todos os dias acordava no mesmo horário em que iria para o trabalho e estudava para o curso do Júlio. Quem trabalha na área de testes tem que fazer este curso, porque de iniciante ali tem só o nome.

Além do curso, há também as aulas bônus e as mais importantes para mim foram as dicas de como se dar bem em entrevistas e como ter um Linkedin campeão. Meu Linkedin nunca antes foi tão bonito.

Meu notebook aberto com uma imagem do Júlio de Lima durante o curso TSPI e do lado minha gata persa cinza.
Jujuba não perde uma aula do Júlio de Lima.

Fiz muitos processos, para testar jogos, máquina de cartão de crédito, aplicativo de comida, aplicativo de compra, chatbots… E meu sim chegou em maio, quando fui contratada pela empresa Atos, que é uma multinacional atuante em vários campos e eu fui alocada em um projeto do setor financeiro. Tive outros “sim”, mas este foi o que eu julguei o que mais combinava com o meu momento.

Mensagem de texto enviada no grupo do curso TSPI informando que havia conseguido me realocar no mercado de trabalho, um coração roxo e uma mensagem carinhosa do Júlio de Lima me parabenizando.
Meu tão sonhado SIM!

A jornada na Atos

Tem sido um super desafio, porque toda a minha contratação foi remota, meu time se divide entre Londrina e São Paulo e eu aprendi que mano serve para falar com todo mundo, que xabu é uma coisa muito séria e eles estão aprendendo que trem tem vários significados.

Eu trabalho em um time incrível que está sempre disponível para tirar dúvidas, onde eu aprendo coisas novas todos os dias e me sinto parte de algo maior pelo qual eu sou muito grata.

No dia 01/01/2021, cinco anos após o início desta jornada que tem sido incrível, fui promovida a sênior e sinto que a cada dia aquela decisão tomada em um momento de tanta angústia foi certa e que todo o esforço tem dado frutos.

Não foi nada fácil chegar até aqui, mas sou grata por todas as pessoas que me apoiaram e não me deixaram desistir. Espero que esse relato sirva de incentivo para quem está começando, principalmente para as mulheres, para que saibam que o fato de ser uma ótima mãe não te impede de ser uma ótima profissional. Termino este texto com um ponto e vírgula, porque não é um final e ainda existem muitos sonhos para serem conquistados;

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