O agravamento da necessidade de acessibilidade durante a pandemia

No Brasil, 45 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência. O que representa quase 24% da população, segundo o censo do IBGE. Dentro desses 45 milhões de brasileiros, há diferentes tipos de pessoas com deficiências, como deficiência motora, visual, auditiva, mudez e em diferentes níveis de perda.

Diferentes placas demonstrando a diversidade de deficiências. Um deficiênte físico, outro deficiente visual..

Tipos de deficiências e suas classificações

A deficiência auditiva tem graus de perda auditiva: leve, moderada, severo e profundo. Na deficiência visual as classificações são: próximo do normal, baixa visão moderada, profunda, próxima à cegueira e cegueira total.

Além dos níveis, as deficiências podem ser classificadas como permantes, temporárias ou por uma determinada situação.

Diferentes tipos de deficiencias e suas classificações permanente, temporária ou determinada situação.
Tipos de Deficiência — Inclusive Design Microsoft

Pandemia e dia-a-dia dos deficientes

Com a pandemia e isolamento social tivemos que mudar diversos hábitos, como ir ao mercado, farmácia, consultas médicas presenciais e etc. Se em uma emergência preciso buscar um médico que atenda no modelo tele medicina, os aplicativos de plano de saúde ou odontológico estão acessíveis? Muitos deficientes não podem ir ao mercado, então recorrem a aplicativos como Ifood, Rappi, James entre outros. Os aplicativos foram desenvolvidos pensando em todos os públicos e levando em consideração a acessibilidade?

Twitter de Ana Ciborque compartilhando sua experiência ruim usando aplicativo e o app Rappi.

Experiências de uso de aplicações sem acessibilidade por deficientes visuais

Em atividades do dia-a-dia Michele Frasson, deficiente visual, compartilhou conosco que estava tentando criar uma conta em um banco digital C6 Bank, usando leitor de tela, e não conseguiu finalizar o cadastro dos dados pessoais, pois ocorre uma falha. Michele publicou essas falha do aplicativo no youtube, e o banco C6 Bank retornou que está priorizando a correção dessa falha.

“Se o seu site/aplicativo não for acessível ele é deficiente” (autor desconhecido)

Outro exemplo de Michele Frasson foi ao usar o aplicativo Spotify que não funciona ao usar na sua Smart TV.

Bruno Pulis, possui uma uma doença genética que atinge os olhos e sua dificuldade é ler textos pequenos e com baixo contraste. Abaixo uma avaliação dele para o Netflix, que não é acessível para todas pessoas. São poucos filmes que possuem áudio descrição em português.

Avaliação do Netflix em relação a acessiblidade, pois possui poucos filmes que tem áudio descrição em português.

Todos esses exemplos que Michele e Bruno partilharam são atividades que fazemos diariamente. Mas já parou para pensar como é o uso dessas aplicações sem acessibilidade para quase um quarto da população? E agora, com o agravamento da pandemia?

Papa Francisco sorrindo com uma criança com deficiência
“Acessibilidade é tudo sobre pessoas” — Marcelo Sales

O Design de Produto também precisa se preocupar com acessiblidade?

Além dos projetos digitais que precisam se adequarem a acessiblidade, o design dos produtos também precisa se preocupar com esssa questão. Para um deficiente visual que é diabetico Tipo 1, idoso ou que cuida de alguém, imagina a dificuldade em distinguir as duas canetas de insulina, sendo que o único detalhe que as diferencia está no topo da caneta, onde é pressionado para a insulina ser injetada.

Duas canetas de insulinas que a única diferença entre elas é a cor verde e rosa no topo da caneta.
Dois tipos de canetas de insulina
Duas canetas de insulina, uma vermelha com dois riscos onde aperta para ser injetado a insulina e a caneta verde sem nada ide
Diferença entre as duas canetas são as duas linhas finas

São insulinas com diferentes ações no corpo, um erro pode ocasionar risco de vida. Nesse exemplo é claro que o laboratório que produz as canetas de insulina não se preocupou com um paciente que é deficiente visual.

Como as empresas estão se adequando a acessibilidade?

Muitas empresas tiveram que adequar urgentemente seus sites e aplicativos devido a crescente necessidade de inclusão. Muitas vezes a adequação vem depois de um processo judicial pela falta de compliance com a acessiblidade.

Há diversas ferramentas (Wave, Achecker, Access Monitor) e guias de acessibilidade (Wcag) na internet que ajudam as pessoas que testam e equipes de desenvolvimento a adequar de forma acessível os sites e aplicativos. Também é possível utilizar personas inclusivas, pesquisas com usuários e testes de usabilidade com diferentes pessoas e suas necessidades. Os profissionais que testam, os QA, precisam pensar além dos testes de regras de negócios. É preciso também pensar em acessibilidade, usabilidade, UX e sobretudo no ser humano que irá usar a aplicação.

Fazer produtos acessíveis não é só atender aos padrões de acessibilidade, mas tornar as experiências verdadeiramente usáveis e abertas para todos. (Beatriz Lonski)

Porque não pensar em acessibilidade no início, durante um projeto ou lançamento de um produto? Muitas vezes não pensamos nos diversos tipos de usuários com diferentes habilidades que irão usar a aplicação. Precisamos projetar para todos!

Referências:

Falta de acessibilidade aplicativo c6 Bank — Michele Frasson

Demonstração acessibilidade e Amazon Alexa da smart Tv Samsung TU-8000 -Michele Frasson

https://speakerdeck.com/brunopulis/always-bet-on-a11y?slide=10 — Bruno Pulis

https://twitter.com/anacuentro/status/1201557740830756871 — Ana Ciborgue

Censo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010

Tipos de Deficiência — Design Inclusive Microsoft

Github do Bruno Pulis com lista de pessoas que contribuem muito para a acessibilidade e os padrões da web.

https://medium.com/r/?url=https%3A%2F%2Fguia-wcag.com%2F -Guia de acessibilidade

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