Testópsia: Dissecando seus testes

Marlon Almeida
Revista eQAlizando (antiga Revista TSPI)
6 min readSep 23, 2020
Dissecando seus testes

Seja você um QA ou Dev que realmente se importa com a qualidade das aplicações que desenvolve, muito provavelmente já se encontrou fazendo uma auto avaliação e pensando algo como:

Será que meus testes exploratórios são realmente eficazes?
O que posso fazer para melhorar minhas habilidades de testes?
Meus testes duraram mais do que o estimado e não consigo explicar os motivos.

Neste artigo, Marlon Almeida e Abner N Netto, mentorados do Júlio de Lima e alunos do TSPI💜, apresentam uma prática de teste que te ajudará a entender muito mais sobre suas habilidades técnicas e comportamentos durante as sessões de testes exploratórios.

A fim de entendermos sobre as alternativas mais recorridas para resolver essas dúvidas e problemas relacionados a qualidade dos testes, fizemos uma enquete no LinkedIn direcionada a QAs e Devs:

Percebe-se que a grande maioria busca melhorar seus testes com base em casos, estratégias, métricas e evidências de testes. Apenas 3% consideram gravar seus testes para servir de entrada na identificação de melhorias para futuros testes. É justamente nesse aspecto que se estabelece esse método ainda pouco conhecido no Brasil. Você perceberá que gravar suas sessões de teste pode ser algo que proporcionará inúmeras oportunidades que certamente te ajudarão a aprimorar suas habilidades e aumentar a qualidade dos seus testes exploratórios!

Animou?!

Então, vamos conhecer mais afundo sobre Testópsia!

Mesa com instrumentos cirúrgicos remetendo-se a uma autópsia que será feita na sessão de testes

O que é Testópsia?

Começando pela definição, Testópsia é a tradução do termo Testopsy.

Autópsia: Uma examinação criteriosa ou dissecação de um assunto ou trabalho.
Testsópsia: Uma autópsia de uma sessão de teste.

Como introduzido há pouco, podemos resumir testópsia como um método de examinação aguçada dos detalhes observados numa sessão de testes exploratórios.

Criado em 1995 por James Bach, mas só vindo a ser batizado como "Testopsy" em 2015, esse método é composto por diversas práticas e técnicas ensinadas na escola RST — Rapid Software Testing, onde James dá aulas junto a outro grande mestre, o Michael Bolton, e juntos, vêm formando centenas de grandes testadores de verdade (real testers).

James Bach & Michael Bolton
Rapid Software Testing é parte da Context-Driven Methodology

Para não deixar dúvidas sobre a definição, segue um trecho da conversa que tivemos com o James Bach:

James, qual a maneira correta de nos referenciarmos a uma testópsia: abordagem, estratégia, método, técnica ou prática?

Testópsia é um método para estudar as práticas de verdadeiros testadores.
Se você executa o método, então testópsia se torna uma prática.
O método não é bem uma estratégia — Ele serve como uma estratégia.

Sendo assim, podemos complementar que esse método é embasado nas práticas de observar, pensar, narrar e anotar decisões e comportamentos do testador enquanto executa testes.

Esse conjunto de práticas é importantíssimo para o desenvolvimento das habilidades de testes, portanto, observar os processos de teste conforme eles realmente acontecem começa com você! Tendo um maior entendimento sobre suas próprias ações, tentando descrevê-las e explicá-las, mesmo que para si. Isso te capacita a não só compreender, como também aplicar diversas heurísticas e modelos que irão enriquecer o desempenho dos seus testes exploratórios.

Quais as atividades e ferramentas necessárias?

Maleta com instrumentos de investigação forense trazendo a ideia de ferramentas de alta precisão

Para realizar uma testópsia em suas sessões de teste, recomenda-se atender a lista de atividades, ferramentas e artefatos listados abaixo:

  • Analisar o contexto do produto e levantar riscos que ameaçam a qualidade do mesmo;
  • Criar um esquema de estrutura do produto, de modo a particionar áreas que servirão como alvos para testes mais aprofundados;
  • Utilizar charters para dar objetivo e time box às suas sessões de testes exploratórios;
  • Preparar câmera e/ou software de gravação de tela;
  • Gravar seus comportamentos e ações durante as sessões de testes;
  • Narrar cada uma dessas ações;
  • Construir um mapa mental com base nas informações narradas;
  • Criar um Report da Sessão registrando defeitos encontrados e demais anotações relevantes.
    Para conhecer um pouco mais sobre registro de defeitos, confira o post “Boas práticas no report de bugs” na Revista TSPI.

Contudo, cada pessoa deve se adequar ao seu próprio contexto e buscar a combinação que melhor atende ao seu processo de teste.

E como se faz uma Testópsia?

Já mostramos tudo que precisa estar à disposição de quem vai realizar testópsias em seus testes. Agora, vamos elencar os procedimentos que te levarão a dissecá-los ao máximo.

  • Criar documento (mapa mental, documento de texto, etc) para anotar observações em cada uma das ações listadas;
  • Reproduzir vídeo da sessão de teste, pausando trecho a trecho;
  • Examinar bem de perto cada mínima ação executada no trecho reproduzido, analisando o comportamento do testador e identificando se houve interrupções, dúvidas decorrentes de algo que não foi especificado ou desvio de foco durante a sessão;
  • Analisar minuciosamente, os defeitos encontrados, identificando a severidade e repetibilidade dos mesmos;
  • Observar com bastante foco, os cenários e fluxos de uso com a finalidade de identificar inconsistências não percebidas durante o teste;
  • Identificar pontos onde ocorreram atividades de preparação de cenários e/ou construção de pré-condições (Ex: Necessário cadastrar um usuário específico para testar uma feature exclusiva e então, criar registros para dar início a exploração de um cenário);
  • Avaliar as heurísticas adotadas nos testes executados com a finalidade de entender se, de fato, foram eficazes ou se há oportunidades de aplicar novos testes com base em diferentes heurísticas;
    Para conhecer um pouco mais sobre heurísticas, confira o post “Heurísticas de teste de software: o que são e seus benefícios” na Revista TSPI.
  • Procurar momentos onde aconteceram desvio de foco do testador, por exemplo, o fenômeno de “Agrupamento de defeitos”. Geralmente, ocorre quando já estamos em uma fase de estresse na investigação do produto, que apresenta comportamentos complexos ou confusos;
  • Avaliar premissas do produto e garantir que todas as explícitas foram atendidas, assim como, investigar por informações subentendidas (premissas implícitas) e também assegurar que atendem as expectativas de qualidade.
    Para aprender mais sobre informações pressupostas ou subentendidas, confira esse post sobre “Bloqueio do Implícito” na Revista TSPI.

Resultados obtidos

Listamos abaixo alguns benefícios observados no vídeo “The Testopsy: Dissection Your Testing”, no qual Bach e Bolton apresentam uma testópsia numa sessão de testes com time-box de 70 minutos.

Onde:

  • Detectaram novas inconsistências no produto;
  • Obtiveram um maior entendimento do produto;
  • Enxergaram melhorias no processo de testes;
  • Levantaram feedbacks sobre o desempenho durante as sessões de testes;
  • Proveram um maior nível de detalhes sobre bugs já reportados;
  • Observaram a importância de sempre gravar os testes baseados em sessão;
  • Perceberam que a testópsia serve como ponto de consulta para relatório de atividades, ajudando a entender quais foram as atividades desempenhadas durante a sessão, com detalhes como tempo, sequência e razões.

Conclusão

Diante do estudo superficial que foi baseado no vídeo The Testopsy: Dissecting your testing, podemos concluir que ao dissecar apenas alguns minutos do seu processo de teste, você pode descobrir deficiências, identificar melhorias, entender muito mais sobre o produto, heurísticas e modelos eficazes para seu contexto.

É possível descobrir surpresas incríveis em cada testópsia realizada em seus testes. Além disso, você desenvolve suas habilidades e conhecimentos não explícitos através do exercício da observação, narração e auto avaliação, podendo até descobrir novas técnicas.

Com a prática de testópsias de forma regular, certamente haverá uma transformação super positiva em sua mentalidade como QA/Testador e isso renderá uma evolução constante de suas habilidades.

E então? Partiu dissecar seus testes?!

Muito obrigado Gabriel Santos, Júlio de Lima e James Bach, pessoas que nos ajudaram bastante tirando dúvidas e revisando este artigo.

Referências

Vídeo Testopsies Dissecting Your Testing — James Bach and Michael Bolton

RST for yourself — https://rapid-software-testing.com/rst-for-yourself/

Testopsy: Dissecting your testing — https://www.improveqs.nl/media/1382/testopsy-etc-2017-huib-schoots.pdf

https://en.wikipedia.org/wiki/Session-based_testing

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