A marcha do retrocesso

As novas direções da Conmebol e da FIFA se mostram cada vez mais semelhantes com as gestões passadas. Basta ver suas últimas medidas

Alexandre Rodrigues Alves
Revista Acréscimos
4 min readJun 14, 2018

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Gianni Infantino, presidente da FIFA e Alejandro Domínguez, presidente da CONMEBOL.

Sim, a Copa do Mundo começou. Mas antes de escrever algo sobre o que acontecer dentro de campo na Russia, tenho de falar sobre o acontecido fora das quatro linhas.

A nostalgia, muitas vezes, é um mal em nossas vidas. Pensar sempre que, “no passado era melhor”, nem sempre corresponde à realidade. Porém, no futebol, essa expressão, provavelmente, vai poder ser usada com certa frequência nos próximos anos. Isso se torna ainda mais visível com as decisões recentes que tivemos, por parte daqueles que comandam o esporte mais popular do mundo.

Depois de ameaçar por algum tempo, a Conmebol finalmente confirmou que a decisão da Copa Libertadores da América de 2019 será em partida única, em anúncio feita na última segunda-feira (11/6). A data desse fato inédito na história da competição, inclusive já está marcada. Durante uma reunião do conselho executivo da entidade realizada em Moscou, a final ficou definida para um sábado, dia 23 de novembro. O local, entretanto, ainda não foi revelado.

O que se sabe é que a magia da Libertadores, sendo disputada em jogo único, se perde e se esvai de forma bastante clara. Como eu mesmo já disse NESTE texto, por diversos motivos, a ideia de um jogo apenas para decidir o campeão da América do Sul é ruim e despropositada.

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Confirmação da vitória da candidatura conjunta de México, Estados Unidos e Canadá para sediarem a Copa de 2026.

Porém, não satisfeitos, os cartolas continuaram a mexer naquilo que já estava dando certo. Na última quarta (13/6) uma “nova” Copa do Mundo foi definida oficialmente. Ela vai ser disputada por 48 seleções a partir de 2026, tendo uma overdose de partidas nos primeiros dias de disputa. O novo formato do Mundial não vai alterar o número de estádios (12), nem sua duração (32 dias), e nem o número de jogos dos finalistas (7). Mas vai aumentar o número de jogos dos atuais 64 para 80 (sendo 60 partidas disputadas em solo estadunidense). Para acomodar as 48 classificadas serão criados 16 grupos com 3 seleções cada, classificando duas para a fase seguinte (!!!)

Ou seja, além de inchar a competição de forma desnecessária, a FIFA muda a fórmula de disputa para um tipo de grupo que permite que a última partida seja apenas um “amistoso” de luxo. Sem contar a queda do nível técnico que muito provavelmente acontecerá com o número exagerado de participantes. Com 32 times já temos um excesso, mas as falhas no nível técnico são matematicamente minimizadas com uma fórmula mais simples de disputa. Com 48, os problemas serão mais evidenciados, por mais que o “clima de copa” sempre apareça na hora das partidas.

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Tweet da Conmebol confirmando a final única da Libertadores a partir de 2019.

Mas o que chama mais atenção é o fato das mudanças, que claramente atendem interesses políticos das confederações, são feitas a partir da mudança de comando da entidades. Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol desde 2016, é um economista paraguaio de 46 anos. Domínguez começou sua carreira no esporte como membro da diretoria do Olímpia em 1995. Foi vice-presidente do clube entre 2004 e 2006. Em 2007, assumiu a primeira vice-presidência da Confederação Paraguaia de Futebol e, em agosto de 2014, tornou-se o presidente interino, até ser eleito de forma efetiva em novembro do mesmo ano.

Com um discurso simpático, assumiu a confederação sul-americana após a queda de Juan Ángel Napout, seu amigo, que também se envolveu no escândalo de recebimento de suborno de empresas de marketing beneficiadas na compra de direitos de transmissão de eventos esportivos.

Por sua vez Gianni Infantino, advogado suíço de 48 anos, também se tornou presidente, no seu caso da FIFA, em 2016. Para a sua eleição, contou com o apoio de famosos para sua candidatura. Ícones do futebol, como Figo, Fabio Capello, Roberto Carlos e José Mourinho, estavam entre os apoiadores. A UEFA o escolheu depois que o presidente da associação, Michel Platini, foi suspenso do futebol por suspeita de corrupção. Durante muitos anos, Infantino, secretário-geral da UEFA, foi o braço direito de Platini.

Podemos perceber então que o discurso do novo, muitas vezes, apenas encobre o que já foi feito anteriormente. E em muitas vezes, apesar do risco de parecermos nostálgicos, o passado realmente era melhor (ao menos nas lembranças).

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