As (quase) mudanças do Brasileirão

Alexandre Rodrigues Alves
Revista Acréscimos
3 min readMar 30, 2019

Pelo que é possível ver de nossa cultura, as mudanças propostas para o Brasileirão/19 terão dificuldades de funcionar na prática

Confusão no Fla-Flu da semifinal da Taça Rio de 2019 envolvendo o VAR (Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo)

Partindo do Conselho Técnico da Série A do Campeonato Brasileiro, no qual foram definidas algumas medidas para o torneio de 2019, tivemos algumas alterações propostas, entre aceitas e recusadas, para a continuidade do futebol nacional nesta e nas próximas temporadas. Farei algumas observações sobre duas dessas ideias.

  • O uso do árbitro de vídeo em todos os jogos do Brasileirão: De acordo com o que foi decidido entre a CBF e os clubes, a entidade irá arcar com todos os custos de tecnologia e infraestrutura, e os clubes vão ficar responsáveis pelas despesas de pessoal dos profissionais que vão operar a ferramenta.

Penso que essa é uma ótima medida, por ser iniciada logo no começo do Brasileiro, fazendo com que todos os jogos sejam disputados em igualdade de condições na questão da tecnologia.

Porém, podemos ver que a própria cultura dos jogadores, dos torcedores e da própria mídia, ainda não permite uma mudança mais radical e que permita a arbitragem ter mais tranquilidade em suas atuações. O que aconteceu na última quarta no jogo entre Flamengo x Fluminense, pela semifinal da Taça Rio, foi uma prova da inquietude e da vontade de se vencer “no grito” dentro de campo, com provocações e intimidações contra os árbitros e os adversários.

A torcida e a mídia, ainda sedentas por “polêmicas” em suas maiorias, continuam a fomentar essas discussões e, normalmente, contribuem pouco para que aconteça uma tranquilidade na preparação de uma partida. Ainda que os jogadores e profissionais do futebol tenham mais responsabilidade no clima de confronto, todos estão inseridos na mesma cultura.

De todo modo, só o hábito fará com que as pessoas se acostumem com a utilização da ajuda eletrônica para a arbitragem. Espero que, a partir daí, a própria atuação dos juízes possa melhorar com o tempo e que, pelo menos parte das polêmicas no fim de cada rodada diminuam (sei que é utopia, mas não custa sonhar com isso…).

O que mais me chama atenção, porém, é o fato de poucas pessoas terem lembrado da medida mais óbvia que poderia ser usada para ajudar os árbitros e os auxiliares: O chip na bola, que deixa claro quando ela atravessa a linha de gol, foi esquecido pela maioria. Espero que não tenhamos reclamações sobre isso durante o campeonato…

  • Os clubes em sua maioria foram contra a ideia da CBF em limitar a troca de treinadores a apenas uma por todo o campeonato.

Acredito que, o que foi proposto não acabou sendo colocado de forma correta. A proibição de uma ideia, ou mesmo de uma simples circulação de mercado, não é algo ideal, nem mesmo para educar os clubes (e também a classe dos técnicos) a diminuir com essa roda viva de trocas durante o ano.

Muitas vezes seria impossível segurar um treinador por algum problema específico dentro da agremiação. Como proibir a demissão de um profissional que, por exemplo, tenha desrespeitado o presidente do clube de forma irreversível? Portanto, o que foi proposto já chegou na mesa de votação do Conselho pronto para ser contestado e derrubado.

O que a CBF poderia fazer seria limitar a troca de treinadores DENTRO DE UMA MESMA DIVISÃO; quem treinou na Série A, não poderia treinar outro time do mesmo patamar na temporada. É uma medida à prova de erros? Não, mas pelo menos poderia fazer o clube repensar e evitar uma troca depois de duas ou três derrotas. Essa medida também poderia levar a equipe repensar mais seu planejamento antes de contratar um profissional.

A cultura do futebol brasileiro é rica, tanto na qualidade e tradição, quanto nos seus erros; dá pra dizer que o Campeonato Brasileiro de 20 clubes e pontos corridos está consolidado. Mas ainda é possível melhorar com o passar do tempo e, para isso, cobrar os clubes para que isso aconteça é fundamental. Não apenas a CBF é responsável pelas ideias e pelos erros. Se a cultura futebolística brasileira não melhorar como um todo, boas medidas podem ficar pelo caminho, infelizmente.

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