Ecos do Atletiba

Alexandre Rodrigues Alves
Revista Acréscimos
3 min readMar 6, 2017

Na última quarta-feira (1/3) Atlético/PR e Coritiba finalmente realizaram o clássico Atletiba que foi cancelado dez dias antes por causa do desacerto entre os clubes e a Federação Paranaense de Futebol sobre a transmissão online da partida. Esse assunto já foi abordado neste texto aqui mesmo na Revista Acréscimos. Mas volto a falar nele pelos desdobramentos que se seguiram após toda a confusão. A audiência no Facebook foi de 2.975.000 pessoas (entre acessos contínuos ou não) e de 700.000 pessoas no YouTube, num total de 3,6 milhões de visualizações.

Atlético/PR e Coritiba já assinaram com o Esporte Interativo (Turner) para o Brasileiro de 2019. (Foto: Divulgação)

Sempre procuro deixar claro que sou totalmente favorável à toda e qualquer inovação que venha a acontecer para as transmissões futebolísticas, até para que elas saiam de um formato tradicional que vemos hoje. Porém não vejo esse futuro tão “livre” como muitos têm sonhado e acreditado que ele possa vir a acontecer. Não creio que, se os clubes levarem adiante essa ideia, vão transmitir todos os jogos na Internet de graça, ao vivo, como muitos passaram a imaginar depois do jogo no Paraná. Claramente fizeram isso agora porque tinham o subsídio do Esporte Interativo (Turner) por trás, coordenando a transmissão, como foi dito por fontes dos próprios clubes. E isso a meu ver foi um dos pontos negativos da transmissão, pois ela foi feita de forma “disfarçada” pelo canal.

Ao escrever este texto, li que já existem propostas diferentes de veiculação de mídia na internet, por parte dos canais envolvidos (Sportv/Globo x Esporte Interativo/Turner) na disputa comercial que estamos vendo agora. O EI pretende ceder a imagem dos jogos das equipes com as quais têm contrato, após as partidas, como até já recebe de equipes europeias, como Barcelona, Real Madrid, Manchester United entre outras, para que exiba VTs dos jogos dessas agremiações. Já a Globo, quer continuar tendo o direito de mídia digital, como já possui com o Premiere Play, e manter o controle dos videotapes das partidas. De fato, em teoria, a proposta de liberdade dos clubes deterem os direitos dos jogos após certo tempo é interessante, mas fundamentalmente não muda tanto para quem quer ver as partidas ao vivo. E é nisso que insisto quando falo que, pelo menos neste momento, ainda não estamos vendo uma “revolução” nos direitos de transmissão de futebol no país.

Como disse anteriormente, não acho ruim a Globo perder uma parte dos jogos dos times brasileiros, numa divisão mais igualitária para que todos tenham oportunidade de ver as partidas. Porém só não acho que vale tudo para trocar um monopólio por outro possível. O Esporte Interativo transmite a UEFA Champions League na TV paga com exclusividade, e isso não é monopólio também? Não vejo tantas reclamações sobre isso nas redes sociais. Claro, a Globo (e o Sportv, como seu canal esportivo pago) têm mais audiência e existe até mesmo uma rejeição por parte política com o grupo global de modo geral, mas que não cabe discutir aqui. O canal têm muitos pontos passíveis de críticas, mas vejo um certo tendencialismo ao se criticar apenas um lado da história dentro de uma disputa comercial.

A atitude do Atlético/PR em não ceder os gols da sua vitória por 2x0 no clássico aos canais do Grupo Globo é mais uma mostra de que a questão de uma verdadeira DEMOCRATIZAÇÃO, tão dita pelos clubes, ainda não encontra eco nas ações que mostram muito mais as verdadeiras intenções (e birras) contidas nesse caso. A manobra foi aplaudida pela maioria das pessoas na internet que, como disse acima, preferem por motivos variados, criticar apenas a Globo e não ver os erros dos outros canais. Posso estar sendo repetitivo nesse ponto, mas penso que, se é para mudar mesmo o estado atual de coisas em termos de direitos de TV e se falam tanto em democracia, esse sinal que vimos, é muito ruim para um verdadeiro discurso de mudança.

Sem dúvida a audiência do jogo representou um número expressivo e não pode ser ignorado. A união dos clubes, se for feita de forma contínua, tem de ser celebrada. Porém ainda penso que muito do significado do jogo ainda não foi entendido pelas pessoas. Ou se foi, está sendo levado de forma tendenciosa por muitos. É uma disputa comercial e não acho que, jornalisticamente falando, tenha um lado necessariamente tão melhor que o outro.

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