#finalunicalaputaqueloparió

Alexandre Rodrigues Alves
Revista Acréscimos
3 min readFeb 26, 2018

A ideia de jogo único para a final da Copa Libertadores a partir de 2019 é só mais uma prova de como o dinheiro e o poder podem comprometer campeonatos pelo mundo

A Conmebol anunciou na última sexta feira (23/2) que a a final da Copa Libertadores da América passará a ser disputada em jogo único a partir do ano que vem. A edição deste ano será a última com decisão em duas partidas e esta medida foi aprovada, de forma surpreendente, por unanimidade pelo conselho da entidade.

A Libertadores já teve finais disputadas em estádios “neutros” em sua história, como podemos ver abaixo no estudo publicado pelo twitter do pessoal do Impedimento. Mas as condições eram bem diferentes, pois normalmente eram jogos-desempate, após as duas primeiras partidas disputadas nas casas dos finalistas.

Lista de finais em campo neutro, publicada pelo twitter do Impedimento

A ideia atual, com claro intuito financeiro, faz com que toda uma tradição de jogos de ida e volta na decisão seja deixada de lado de forma a impedir com que torcedores locais, muitos que esperaram uma vida toda para poder ver ao vivo uma final continental de seu time, não possam acompanhar esse momento histórico.

Nas palavras do atual presidente da Conmebol Alejandro Domínguez:

“A partir de 2019, a Libertadores será decidida em uma apaixonante final única. Mais do que uma partida, será um grande evento esportivo, cultural e turístico que trará benefícios para o futebol sul-americano, seus clubes e torcedores. Será oferecido um espetáculo de classe mundial e uma melhor experiência em casa e no estádio.”

A questão da experiência do torcedor é algo claramente ligada ao turismo, mas que já poderia ser feito com os jogos disputados na casa do adversário. Você perde toda uma tradição cultural local do continente, que é do confronto de um adversário contra o outro em suas respectivas casas, para tentar emular o que é feito na Europa.

Na edição de 2018 o campeão receberá US$ 6 milhões e o vice US$ 3 milhões pela participação na decisão. Já em 2019 cada um ganhará US$ 2 milhões a mais, além de 25% da renda da venda de ingressos da final — que certamente não serão baratos. Porém nada disso garante o sucesso pleno da empreitada. As dificuldades de logística de transporte e locomoção no continente são notórias e não existem perspectivas de melhoras em curto prazo.

Além disso existe a dúvida no interesse de uma final com times de nem tanta torcida ou tradição em determinados locais. Imaginemos, por exemplo, uma decisão entre Cerro Porteño x Banfield no Mineirão. Será que esse jogo atrairia interesse por aqui? É algo que, pelo visto, não foi muito pensado pelos dirigentes sul-americanos, que priorizaram claramente a questão financeira, inclusive para tentar ganhar mais nos contratos de transmissão da competição, que serão renovados para a temporada de 2019.

Também podemos dizer que a decisão têm motivação (e inspiração) no instinto de mudanças que vimos ultimamente na Copa do Mundo (com o aumento previsto para 48 seleções a partir do torneio de 2026) e na Eurocopa (que passou a ter 24 seleções a partir da edição disputada na França em 2016). Instinto esse que, sem nenhuma dúvida, têm tudo a ver com a manutenção política dos grupos que estão no poder nessas entidades. Mesmo com a mudança de nomes que vimos nos últimos anos, as práticas são bem semelhantes.

Nesta semana a fase de grupos da Libertadores de 2018 começa. Pelo visto devemos aproveitar bem e ver como é bom ter uma tradição que reforça a mística em torno de um torneio tão especial, que é a final em jogos de ida e volta. Como está na hashtag que circulou na internet e que dá título a este texto:

Final única = SOMOS CONTRA!

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