O abismo das finanças no futebol brasileiro
Os clubes brasileiros ainda não conseguiram fazer a partilha mais justa do dinheiro que recebem pelos direitos de transmissão da TV
Em 1987 foi criado no futebol brasileiro o Clube dos 13, associação dos auto-proclamados 13 maiores times nacionais. Ele serviria para a independência das agremiações brasileiras das amarras da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e, a partir de sua formação, faria o Brasil caminhar a modernidade em termos de formatos de campeonatos nacionais, com a criação de uma Liga independente.
24 anos depois, sem a Liga, sem independência e com muitas confusões, — começando pelo próprio campeonato que seria libertador, o de 87, que ficou conhecido pela bagunça entre a Copa União e os Módulos Verde e Amarelo e a famigerada “Taça das Bolinhas” (não falaremos dela neste texto!) — em 2011 o Clube dos 13 foi implodido por seus próprios membros, para acabar com sua única função restante — a negociação de cotas de TV e direitos de transmissão com as emissoras brasileiras.
A partir do fim do grupo de clubes, cada um teve a liberdade de negociar por si mesmo e o que vimos foi um desnível incrível entre os valores que alguns times recebiam em relação aos outros.
Os valores colocados à esquerda pelo Diário de Pernambuco demonstram que, a negociação individual por parte dos clubes criou um desnível incrível entre eles. A diferença entre o que um Flamengo ou Corinthians (os mais afortunados pelo dinheiro da TV) ganham para o que recebem um Avaí ou o Atlético Goianiense chega até a quase 9 vezes! Se somarmos o dinheiro recebido por luvas pela renovação dos direitos de alguns clubes com a Globo e a assinatura de outros com a Turner/Esporte Interativo, essa diferença se mantém.
A principal comparação que se faz é com o que é feito na Premier League da Inglaterra. E aí temos a suprema ironia desta situação. Os times ingleses resolveram se tornar independente da FA (a Futebol Association, a “CBF” de lá) em 1992, 5 anos depois da criação do Clube dos 13! Ou seja, caso a ideia brasileira não tivesse sido minada por picuinhas, ciúmes e brigas entre cartolas, o Brasil poderia estar na vanguarda de regulamentos e formato de competições no mundo.
No entanto o que vimos aqui foi a volta à situação comum, com o comando da CBF, que é o que temos até hoje. Já na Inglaterra por sua vez, temos cada vez mais a força financeira fazendo com que o campeonato seja uma potência em termos internacionais. Podemos dizer que o dinheiro externo, muitas vezes de procedência estranha, seja algo que deponha contra a total idoneidade dos cartolas.
Porém o modelo inglês se auto-sustenta por uma maneira bem clara e mais justa de divisão das finanças relacionadas aos direitos de transmissão de TV.
Segundo o blog do profissional em marketing esportivo e consultor Amir Somoggi:
“O atual contrato do campeonato inglês divide £ 2,5 bilhões entre os times, mais de R$ 10 bilhões por ano. Nessa última temporada todos os times receberam £ 84,4 milhões fixos.
O campeão Chelsea ficou com um total de £ 153,3 milhões. Além do valor fixo garantindo, recebeu outros £ 30,4 milhões pelos jogos transmitidos e mais £ 38,4 milhões por seu desempenho.
O último colocado Sunderland recebeu £ 99,9 milhões, além do valor fixo igual para todos, outros £ 13,6 milhões pelos jogos transmitidos e £ 1,9 milhão pelo desempenho.
A diferença entre o que recebeu o campeão Chelsea e o lanterna Sunderland foi de apenas 1,5 vezes. É algo que não garante um equilíbrio técnico total no torneio, mas ao menos dá a chance a todos terem maior investimento.
A fórmula de divisão dos direitos se baseia na partilha de 50% de todo o dinheiro feita de forma igual aos 20 clubes participantes. 25% se refere à quantidade de jogos transmitidos e os outros 25% são referentes à colocação no campeonato.
Como eu disse acima, não é uma garantia de equilíbrio total no campeonato, mas é algo que pode fazer com que o que é recebido pelos clubes seja mais bem dividido. Para as negociações futuras e para o próximo contrato de transmissão, tanto Globo quanto Turner/Esporte Interativo prometem seguir esse modelo de divisão de cotas.
Esperamos que, além das TVs valorizarem mais o equilíbrio da competição que vão transmistir, os clubes também saibam se unir desta vez e não percam mais uma vez a oportunidade de fazer uma divisão mais justa do que recebem da TV para a transmissão de seus jogos.
UMA PEQUENA RESSALVA: É preciso ressaltar que a fórmula brasileira não estava imune à injustiças. A Copa União de 1987 deixou de fora Guarani de Campinas e o América do Rio de Janeiro, respectivamente segundo e terceiro colocados no Campeonato Brasileiro de 1986. Os dois foram deixados de fora do torneio principal pois não foram vistos com simpatia pelos organizadores a partir do critério de maior torcida e aceitação nacional. Mas a formação da Liga Nacional seria interessante caso fosse levada à frente.