Revoltas de ocasião

Os erros contra times brasileiros em competições sul-americanas geram discussão, mas o problema também está por aqui

Alexandre Rodrigues Alves
Revista Acréscimos
4 min readSep 25, 2018

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O ex-árbitro paraguaio Ubaldo Aquino (segundo da esquerda para direita) dá palestra para atletas e comissão técnica do Palmeiras (foto: Divulgação / Palmeiras).

Em 2001, o árbitro paraguaio Ubaldo Aquino prejudicou o Palmeiras na semifinal da Copa Libertadores da América contra o Boca Juniors na primeira partida disputada na Argentina. Deu um pênalti inexistente para o time argentino e não deu um claro para o time paulista.

Vídeo com os lances do jogo entre Boca e Palmeiras em 2001.

Antes dessa partida, Ubaldo já tinha prejudicado o São Paulo na final da Supercopa dos Campeões da Libertadores em 1997, contra o River Plate na Argentina.

Resumo do segundo tempo da final entre São Paulo e River pela Supercopa da Libertadores.

Em 2018, o Cruzeiro foi prejudicado de forma bizarra na Libertadores, novamente contra o Boca Juniors na Argentina, com uma expulsão absurda do zagueiro Dedé, desta vez com o uso errôneo do árbitro de vídeo, pelo também paraguaio Eber Aquino (até onde se sabe não é parente de Ubaldo).

O que esses lances têm em comum? Poderia dizer que existe um complô contra os brasileiros na Conmebol, principalmente depois da desastrada ação do atual presidente decorativo da CBF, Coronel Nunes, em votar a favor de Marrocos ao invés da candidatura conjunta de México, Estados Unidos e Canadá para sede da Copa de 2026. Depois dessa trapalhada na época da Copa da Rússia, muitos dizem, de forma velada ou clara, que “o Brasil perdeu força da Conmebol”.

Ok, não sejamos ingênuos; o futebol é feito de força política e de bastidores, isso é fato. Porém, dizer ou insinuar que o Brasil é quase um coitadinho no jogo de forças do futebol do continente é quase zombar da pessoa que escuta isso. Basta lembrar que o presidente da FIFA foi um brasileiro por incríveis 24 anos (João Havelange entre 1974 e 1998). Mesmo atualmente, a presença brasileira em cargos importantes do futebol sul-americano é visível; o atual presidente da Comissão de Arbitragem da Conmebol é brasileiro: o ex-árbitro Wilson Luiz Seneme.

Ao dizer que “falta força”, apenas vemos ou enxergamos o nosso lado do problema, naquele típico ditado: Quem pode mais, chora menos. Ou seja, se recobrarmos a nossa força ou influência, a situação pode continuar como está, com times menores ,como o Deportes Temuco do Chile, sendo eliminados da Copa Sul-Americana, como aconteceu neste ano, em circunstâncias bastante questionáveis e semelhantes ao problema do Santos na Libertadores. Ou mesmo os tradicionais prejuízos a times pequenos no Brasil em campeonatos regionais, que muitas vezes são tratados com desdém por esses mesmos times gigantes e até mesmo pela imprensa.

No mundo ideal, o que poderíamos pleitear é uma comissão de arbitragem isenta e também um tribunal de penas com critérios mais lógicos. Esperar e ficar na dúvida até a véspera (ou mesmo no dia) de uma partida para saber se um atleta pode ou não jogar, como foi no caso de Carlos Sánchez no jogo entre Santos e Independiente, é algo não menos que bizarro.

Deixo claro aqui que o Cruzeiro, no caso específico da expulsão de Dedé, deve tentar ao máximo reverter esse absurdo, pois poucas vezes vi um lance tão patético e um erro de interpretação tão evidente, que nos leva a pensar muitas coisas sobre as intenções da arbitragem. Não acuso o juiz obviamente, mas que deixa margem para todo o tipo de dúvidas, isso deixa. Porém vejo no time mineiro e em todos os outros brasileiros, uma certa indignação seletiva e pouquíssima (ou nenhuma) união para mudar o estado atual de coisas.

Lembram do Ubaldo Aquino do começo do texto? Pois bem, o Palmeiras, na véspera de sua partida contra o Colo-Colo do Chile em Santiago, recebeu uma palestra da comissão de arbitragem da Conmebol sobre o VAR, que está sendo utilizado na Libertadores. Um dos responsáveis pelas orientações ao elenco e para a comissão técnica foi… Ubaldo Aquino, atualmente assessor internacional de arbitragem da confederação sul-americana!

Claro que Ubaldo não precisaria ficar encarcerado pelo resto da vida pelos erros que cometeu. Mas essa presença marca simbolicamente como os próprios brasileiros são coniventes com o estado atual de coisas na arbitragem. São partes de algo que querem mudar, mas só quando lhes convém.

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Nesta semana aconteceu a premiação Fifa The Best, que consagrou o croata Luka Modric como “Melhor Jogador do Mundo” no masculino e fez com que a brasileira Marta obtivesse seu sexto prêmio no feminino. Não vou falar nada sobre isso, pois o texto que fiz ano passado, após a final da Liga dos Campeões entre Real Madrid e Juventus, continua valendo:

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