Sobre prêmios, certezas e definições

Depois da final da UEFA Champions League do último sábado, o “melhor do mundo” de 2017, teoricamente, já foi definido. Mas definir o melhor é tão fácil assim?

Alexandre Rodrigues Alves
Revista Acréscimos
6 min readJun 7, 2017

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Cristiano Ronaldo (no centro da foto) comemora o terceiro gol (o seu segundo) do Real Madrid na final da UEFA Champions League contra a Juventus, em Cardiff, no País de Gales. O time espanhol venceu por 4x1 e foi campeão europeu. (foto: ESPN FC)

O Real Madrid venceu a Juventus por 4x1 na final da UEFA Champions League da temporada europeia de 2016/2017. Cristiano Ronaldo fez 2 gols na final e, logo depois do fim da partida, já era praticamente decretado por muitos como o “melhor jogador do mundo” da temporada. Pior; muitos analistas disseram que ele “já venceu” o prêmio da FIFA que elege o melhor jogador de cada ano. Essas definições me incomodaram um pouco, não pelo fato dos jornalistas terem dito isso, mas sim porque, infelizmente, é algo que muito provavelmente irá se confirmar.

Primeiramente deixo claro que não acho as premiações um parâmetro definitivo sobre qualquer coisa, isso em qualquer área, seja no cinema, na música, etc. Tudo gira em torno de algo extremamente midiático e comercial, infelizmente algo comum no mundo de hoje. Não é surpresa termos sempre jogadores dos mesmos times disputando essa honraria, desde que ela existe em escala mundial, com a chancela da FIFA, a partir de 1991. Abaixo, relembro os três mais votados nessa premiação a cada ano.

2016

1° Cristiano Ronaldo (Portugal) Real Madrid/ESP
2° Lionel Messi (Argentina) Barcelona/ESP
3° Antoine Griezmann (França) Atlético de Madrid/ESP

2015

1° Lionel Messi (Argentina) Barcelona/ESP
2° Cristiano Ronaldo (Portugal) Real Madrid/ESP
3° Neymar (Brasil) Barcelona/ESP

2014

1° Cristiano Ronaldo (Portugal) Real Madrid/ESP
2° Lionel Messi (Argentina) Barcelona/ESP
3° Manuel Neuer (Alemanha) Bayern de Munique/ALE

2013

1° Cristiano Ronaldo (Portugal) Real Madrid/ESP
2° Lionel Messi (Argentina) Barcelona/ESP
3° Franck Ribéry (França) Bayern de Munique/ALE

2012

1° Lionel Messi (Argentina) Barcelona/ESP
2° Cristiano Ronaldo (Portugal) Real Madrid/ESP
3° Andrés Iniesta (Espanha) Barcelona/ESP

2011

1° Lionel Messi (Argentina) Barcelona/ESP
2° Cristiano Ronaldo (Portugal) Real Madrid/ESP
3° Xavi Hernández (Espanha)(Barcelona/ESP)

2010

1° Lionel Messi (Argentina) Barcelona/ESP
2° Andrés Iniesta (Espanha) Barcelona/ESP
3° Xavi Hernández (Espanha) Barcelona/ESP

2009

1° Lionel Messi (Argentina) Barcelona/ESP
2° Cristiano Ronaldo (Portugal) Manchester United/ING e Real Madrid/ESP
3° Xavi Hernández (Espanha) Barcelona/ESP

2008

1° Cristiano Ronaldo(Portugal) Manchester United/ING
2° Lionel Messi (Argentina) Barcelona/ESP
3° Fernando Torres (Espanha) Liverpool/ING

2007

1° Kaká (Brasil) Milan/ITA
2° Lionel Messi (Argentina) Barcelona/ESP
3° Cristiano Ronaldo (Portugal) Manchester United/ING

2006

1° Fabio Cannavaro (Itália) Juventus/ITA e Real Madrid/ESP
2° Zinedine Zidane (França) Real Madrid/ESP
3° Ronaldinho Gaúcho (Brasil) Barcelona/ESP

2005

1° Ronaldinho Gaúcho (Brasil) Barcelona/ESP
2° Frank Lampard (Inglaterra) Chelsea/ING
3° Samuel Eto’o (Camarões)Barcelona/ESP

2004

1° Ronaldinho Gaúcho (Brasil) Barcelona/ESP
2° Thierry Henry (França) Arsenal/ING
3° Andriy Shevchenko (Ucrânia) Milan/ITA

2003

1° Zinedine Zidane (França) Real Madrid/ESP
2° Thierry Henry (França) Arsenal/ING
3° Ronaldo (Brasil) Real Madrid/ESP

2002

1° Ronaldo (Brasil) Inter Milão/ITA e Real Madrid
2° Oliver Khan (Alemanha) Bayern de Munique/ALE
3° Zinedine Zidane (França) Real Madrid/ESP

2001

1° Luis Figo (Portugal) Real Madrid/ESP
2° David Beckham (Inglaterra) Manchester United/ING
3° Raúl (Espanha) Real Madrid/ESP

2000

1° Zinedine Zidane (França) Juventus/ITA
2° Luis Figo (Portugal) Real Madrid/ESP
3° Rivaldo (Brasil) Barcelona/ESP

1999

1° Rivaldo (Brasil) Barcelona/ESP
2° David Beckham (Inglaterra) Manchester United/ING
3° Gabriel Batistuta (Argentina) Fiorentina/ITA

1998

1° Zinedine Zidane (França) Juventus/ITA
2° Ronaldo (Brasil) Inter Milão/ITA
3° Davor Suker (Croácia) Real Madrid/ESP

1997

1° Ronaldo (Brasil) Inter Milão/ITA
2° Roberto Carlos (Brasil) Real Madrid/ESP
3° Dennis Bergkamp (Holanda) Arsenal/ING
3° Zinedine Zidane (França) Juventus/ITA (empatados nos votos, dividiram o terceiro lugar)

1996

1° Ronaldo (Brasil) Barcelona/ESP
2° George Weah (Libéria) Milan/ITA
3° Alan Shearer (Inglaterra) Newcastle/ING

1995

1° George Weah (Libéria) Milan/ITA
2° Paolo Maldini (Itália) Milan/ITA
3° Jurgen Klinsmann (Alemanha) Bayern de Munique/ALE

1994

1° Romário (Brasil) Barcelona/ESP
2° Hristo Stoichkov (Bulgária) Barcelona/ESP
3° Roberto Baggio (Itália) Juventus/ITA

1993

1° Roberto Baggio (Itália) Juventus/ITA
2° Romário (Brasil) Barcelona/ESP
3° Dennis Bergkamp (Holanda) Ajax Amsterdam/HOL

1992

1° Marco Van Basten (Holanda) Milan/ITA
2° Hristo Stoichkov (Bulgária) Barcelona/ESP
3° Thomas Hassler (Alemanha) Roma/ITA

1991

1° Lothar Matthaus (Alemanha) Inter Milão/ITA
2° Jean Pierre Papin (França) — Olympique Marseille/FRA
3° Gary Lineker (Inglaterra) — Tottenham Hotspur/ING

(Detalhe: Apenas jogadores que atuavam em Real Madrid, Barcelona, Inter de Milão, Milan, Juventus e Manchester United venceram o prêmio até hoje).

Ao vermos essa lista podemos concluir algo já conhecido; os olhos do mundo para qualquer eleição se voltam apenas para a Europa. Os títulos que um jogador vence, somados à sua força midiática, são fundamentais para que ele tenha chance de ser eleito ou lembrado, mesmo que ele não tenha sido maior destaque técnico e estatístico de sua equipe. Além disso, salta aos olhos o fato das performances de jogadores nas suas seleções principais contarem pouco para as indicações, o que deixa claro que o futebol de clubes hoje tem um valor até superior ao das nações, com exceção dos anos de Copa do Mundo.

Clubes mais poderosos financeiramente conseguem os melhores ou mais famosos atletas e isso faz com que a disputa seja polarizada, além de ser marcada pela lembrança automática de alguns nomes. É claro e até natural que Messi e Cristiano Ronaldo, que têm mantido uma média muito alta de atuação, sejam sempre lembrados, mas alguns nomes são esquecidos em determinados momentos.

Para ficar apenas em dois nomes atuais, Luis Suárez e Toni Kroos vem atuando com regularidade a algum tempo e mereciam certamente uma lembrança mais efetiva. Contra o uruguaio pesa o histórico de mau comportamento em campo e isso pode ser sempre usado contra ele. Já o alemão não possui nem o estereótipo (cada vez mais antigo e esquecido, é bom ressaltar) de jogador alemão sem habilidade, mas também não têm a leveza de um Messi ou Neymar, nem a força física de Cristiano Ronaldo, o que o deixa num meio termo, ainda que ele venha jogando com grande efetividade a muito tempo.

Wesley Sneijder, o melhor jogador do mundo NO ANO de 2010 (mas que não ganhou o prêmio da FIFA). (Imagem do site: fansided. com. Crédito: sp Keo)

Além disso, a questão de eleger O MELHOR é bem relativa. Se você premia por um ano apenas, nem sempre quem é o melhor de fato (e para mim a algum tempo Messi é o jogador mais diferenciado) fez a melhor temporada que todos. Um caso clássico aconteceu em 2010, quando Sneijder fez uma temporada espetacular tanto na Liga dos Campeões com o título da Internazionale quando na Copa do Mundo com o vice-campeonato mundial da Holanda. Mesmo assim, nem foi lembrado na votação. Portanto temos de relativizar algumas vezes essa parte festeira da mídia que adora apenas jogar confete e promover duelos entre os jogadores mais famosos.

Não estou com este texto dizendo que os jogadores que estão vencendo os prêmios recentemente sejam ruins ou não são merecedores de conquistas. Só penso que toda definição sobre quem é melhor ou pior passa por uma certa dúvida e, principalmente, por um critério subjetivo que é o gosto pessoal de quem escolhe. Some-se a isso o fato de que o futebol é coletivo e nem sempre quem é o melhor jogador joga no melhor time.

Como disse antes, Messi é o melhor jogador do mundo, mas para o meu gosto. Nem todos concordam e é assim que se baseiam muitas das conversas de quem gosta de futebol. Porém, analisar o esporte apenas por esse lado de buscar quem é o “número 1”é chato e, na maioria das vezes, desnecessário.

Sei que as premiações continuarão; movimentam a mídia, causam debate, dão audiência…Mas penso que apreciar o que vemos em campo e não só buscar certezas definitivas, é ainda melhor.

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