A contribuição do pensamento budista para a redução da violência

Entrevista com Lama Padma Samten sobre as causas sutis da violência e da consequente ineficácia dos métodos de punição e encarceramento

Plataforma Bodisatva
RevistaBodisatva
3 min readJun 29, 2017

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Foto: Catherine Zaidova

A violência é um tema constante nos ensinamentos do Lama Padma Samten, que nos leva sempre a olhar a questão em sua base e compreendermos definitivamente o papel do mundo interno nas causas da violência e na transformação da realidade.

Várias posições do Lama estão claramente na contracorrente do pensamento geral sobre como lidar coletivamente com o problema. Para ele, a culpabilização e mesmo a penalização e o encarceramento são medidas que não resolvem o problema da violência.

Foto: Arquivo CEBB

“Quando vemos um ato de violência ou alguma coisa horrível, deveríamos entender assim: a pessoa que fez essa ação horrível, provavelmente, depois de 15 ou 5 minutos estará profundamente arrependida. Estará super mal. A pessoa foi colhida pelo carma. Ela é uma vítima do carma também. Ainda que a gente tenha a tendência a acusar, culpar e condenar, a pessoa agressora foi vitimada pelo carma mas ela não é o carma. O carma veio e se manifestou e a pessoa fez o que fez. Isso acontece do mesmo modo que a gente ama e depois deixar de amar, que a gente tem raivas e loucuras e depois deixa de ter as raivas e as loucuras. Quando a gente ama e deixa de amar, a gente diz: ‘eu não sou mais aquele’. A gente ainda é aquilo mas ao mesmo tempo não é. Mas as pessoas vão dizer: ‘não, você é o mesmo’ e nos condenam. Mas nós não somos mais aquela pessoa.”

A entrevista abaixo foi concedida ao jornalista Rodrigo Wolff Apolloni quando Lama esteve em Curitiba para participar de uma conferência no Conselho Parlamentar de Cultura da Paz, o ConPaz. Nela, o Lama fala de aspectos coletivos e sociais mas também nos convida a refazermos nós mesmos, em nossa prática individual, nossas ações. Publicada no site da Bodisatva em junho de 2013, a revisitamos aqui por ser um tema ainda latente nos dias que vivemos, exatamente quatro anos depois.

Nos últimos meses, a sociedade brasileira se aproximou da ideia de reduzir a maioridade penal. Para muitas pessoas, a medida inibiria a criminalidade entre os mais jovens. Como o senhor vê a questão?

Lama Padma Samten — Reduzir ou não reduzir a maioridade penal não vai fazer grande diferença. Em nossa época, as crianças de dez anos são seres muito lúcidos, elas entendem as coisas, dão palpites, são criativas — são ótimas. Aos dezesseis, então, essa compreensão é muito maior. O problema, porém, não reside aí: o fato é que a penalização, o encarceramento, não funciona em nenhuma idade, seus resultados são frágeis e danosos. Essa é a questão principal.

Diante dessa perspectiva, qual seria a solução?

Lama Padma Samten — É preciso entender o que leva um jovem ou qualquer pessoa a agir de forma negativa. Nós não temos uma compreensão profunda sobre como esses processos ocorrem.

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