Não adianta levantar a mão manda localização

Revista Chão
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3 min readFeb 7, 2020

O nome de verdade era Juliana. O do instagram era um invejável e simples ju.garcia, porque ela tinha chegado cedo lá. Early adopter de rede social é tudo gente que tem nome simples, pode ver. No twitter estava Rihana nos perdoe! No carnaval, queria ser chamada de Veronica-com-C. Ia ser engraçado. Naturalmente engraçado. Na primeira vez que perguntaram seu nome, falou sem convicção. Não tinha nenhum amigo por perto e ela virou só Veronica. Mas o resto era tudo ju garcia. Sem ponto. Na segunda vez teve que ouvir a resposta “e eu me chamo Danilo, com d.” E depois uma risada. Era Danilo rindo da própria piada. Era Danilo fazendo uma piada ruim de escada para uma piada pior ainda. Era o desenrolar óbvio dos acontecimentos que nem Juliana, nem ju.garcia e muito menos Rihana nos perdoe! tinha previsto. E ainda era sábado.

Jéssica fita o chão por um tempo e solta para o amigo: estamos velhos demais para isso? Hidratados, alimentados, descansados — Ele enumera — Estamos 100% aptos ao melhor tipo de diversão que isso aqui puder proporcionar. — O amigo adotou o papel de otimizador recreativo esse ano. Para ele, ter todas as barrinhas de energia preenchidas os tornava elegíveis aos grandes momentos de catarse do carnaval. — Eu sei, mas eu digo velhos demais pra isso — E aponta pra ambos de cima a baixo. Como ele se recusa a entender ela emenda: você está vestido de Elton John e eu de garrafa de água mineral, amigo. Será que a gente não ficou velho demais para ser bobo? No que Elton John se transfigura em psicólogo: o lúdico é importante na vida de qualquer ser humano, garota. — Então tudo bem um adulto se infantilizar? — Uai, e ser criança é ser inferior? Levanta logo que a concentração vai sair.

​Era a primeira vez de Bruna no bloquinho. No Carnaval inteiro, na verdade. Ela não pulava Carnaval já fazia tempo mas os tempos eram outros então lá estava! Perdeu 10 anos de bloquinho por besteira de namoro sério e agora vestida de Em um Relacionamento Nada Sério prometia não pular o Carnaval mas pular NO Carnaval. Bruna achou graça do próprio trocadilho sem graça — assim como Danilo que começa com d — e resolveu comprar os três latão por cinco que já estavam expostos há duas horas no sol mas ninguém se importava.

Você acha que Tião, filho de Tióti, vai se assombrar com ameaça? Maloqueiro não se assombra com qualquer coisa não, cantaria Chico, filho de Science, nesse carnaval aqui mesmo. Como Olinda tá modificada. A sombra dos prédios cobrindo o sol da praia. Esses caras inventando negócio de cadastro pra trabalhar. Até parece. Pra trabalhar a gente precisa é de necessidade, e isso eu posso comprovar bem. Alguém canta tira-o-pé-do-chão-aê, e as meninada tudo pula, sobe e desce, e quando desce é splashhhh, vão pisando nas poça de mijo e resto de gelo que vai escorrendo da minha caixa de isopor. Eu tô de tênis, que eu não sou besta né. Já tô por aqui há 14 carnavais. Já me conhecem de outros carnavais. No carnaval lá da minha cidade a gente ouvia forró. Esses tempo atrás descobri que tem como ouvir a rádio de lá pela internet. Todo esse tempo, eu era menino ainda, é o mesmo locutor, seu Dirunel, ou seu Dimas, ou seu Rildebás, não tô lembrando, mas é ele. No programa dele só tocava as mais antigas, as mais bonitas. Era como viajar no tempo, viajar pra trás, viajar pra dentro. Mandei mensagem pra pedir música. Que saudade. E eu mirradinho, só a tripa, meu pai chamava pra quebrar gelo porque já já era tempo do povo ir festar. E eu batia e batia no gelo, enquanto o rádio fazia companhia pra gente, e meu pai cantarolava e acompanhava, ‘Luiz, respeita Januário; respeita os oito baixo do teu pai’.

[por Ceci, Gabi Favarini, Jordana Machado e Raquel Carvalho]

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