Entre os fios da urdidura: três olhares sobre Penélope
de milene moraes
I
Penélope cotidiana
À noite e
em surdina
ela destecia
as marcas do tempo
em seu corpo
As mãos enrugadas
cheias de adeuses
Os lábios murchos
vazios do amado
Na manhã fria
reerguia-se das ruínas
da saudade
e com mãos firmes
tecia uma nova esperança
junto com a luz da manhã
o pão com manteiga
e o cheiro do café
II
A trama de Penélope
Penélope extraiu da leveza
e espessura das agulhas
uma didática da espera
Cerziu o amor
dia após dia
com dedos e dedais de aço
para, à noite, surpreendê-lo
e, com um laço,
recusá-lo
III
Penélope argonauta
“Não seria difícil encontrar o não lugar”. Marina Colasanti
Para o João
Ela ficou
Mas seu coração de maresia
Não respeitava mapas e luas
Munida de sua bússola interior
Todos os dias
Exausta da espera
De dentro do quarto
Saía para ver o mar
Até que um dia
De pé
No porto do pensamento
Ela partiu
Referência:
Poemas extraídos do livro, À procura, Milene Moraes, Editora Urutau, 2017.
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