Quando escrevo, um cavalo escala meu corpo

Grifo - editorial
revistagrifo
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2 min readNov 1, 2021

Marianna Fernandes Perna

Um corpo em devastação, casa em chamas reerguida sobre
ruínas postergadas.

Uma mulher que dança seu fim, move-se como?

Um sol de fim de tarde surge como prenúncio do novo,
que sempre vem.

Reflexos sem reflexo.

Como se dança o fim, como se mover dentro do tempo, que é
tudo e também o nada? Como se reinventa o sentido de pisar
sobre a terra, como se mantém os ossos coesos, firmes para ser
teto e base pro ser?

De tão quebrada, acho que a terra agora dorme.

Esse trabalho consiste em uma série de fotografias, divididas em 4 etapas. 1. Estado Fúnebre / 2. Enterro / 3. Aceitação / 4.Deixar ir

As fotografias começaram a surgir logo após uma perda muito significativa pra mim. Se deram de forma muito intuitiva, eu não tive um propósito ou objetivo quando estava fazendo. Às vezes me vinham imagens ou desejo de posicionar o corpo de tal modo, e eu fiz. E pedia a algum amigo disponível naquele momento para fotografar. Elas aconteceram em momentos diferentes, em meses diferentes do ano, e até então eu não as tinha relacionado umas com as outras. Em algum momento me veio à luz essa compreensão, que essas fotos estavam falando de uma coisa em comum, e colocando todas juntas, tentando criar uma montagem com elas, tentando pensar o que me permeava naquele momento, entendi que era meu corpo ritualizando, criando símbolos do que estava sendo para mim atravessar o luto.

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