Angela Davis, Identidade e Militância, uma luta constante #h3

por Laryssa Gomes*

Helenas
revistahelenas
4 min readDec 29, 2019

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*Professora de História e Filosofia, curiosa e muito detalhista — amante de livros e artes circenses, uma quase dançarina de Pole Dance e Lira. Leciona no Ensino Regular e é apaixonada por seus alunos.

A identidade feminina e a construção em cada espaço histórico são escritas por sua diversidade cultural.

Mulher, Negra, Professora, Ativista, Marxista se opor a sociedade machista e patriarcal da época é algo um tanto quanto peculiar, mas para mudar seu papel e o mesmo de muitas outras não havia outro caminho a não ser o da Luta.

Angela Davis, nascida em 1944 no estado do Alabama, um dos estados mais racistas do Estados Unidos, aprendeu a conviver com a segregação desde muito jovem. Nessa época uma das mais populares organizações civis era a Ku Klux Klan, que se caracterizava pelo hábito de perseguir, linchar e enforcar qualquer negro que lhe cruzasse o caminho. Assim, quando fala sobre as forças racistas, os extremistas conservadores e as consequências do racismo, machismo e da desigualdade social ela sabe com propriedade discursar.

Foto: Angela Davis / Reprodução.

Começou a luta ainda adolescente organizando grupos de estudo inter-raciais, que acabaram sendo considerados ilegais. Mudou-se para o norte dos EUA, onde foi estudar Filosofia na Universidade de Brandeis, no estado de Massachusetts. E se encantou com a “nova esquerda” americana, que lutava em favor dos direitos civis, do movimento gay e contra a desigualdade de gêneros, entre outras causas. Mas foi em 1963 quando uma igreja sofreu um atentado em um bairro negro de Birmingham e 4 jovens morreram, onde essas eram amigas de Angela, esse fato foi como uma alavanca para que ela tivesse a certeza de sua luta.

Mulher, Mulher negra, Mulher negra e pobre, Angela Davis era tudo que o patriarcado masculino e branco não tolerava: inteligente, altiva, senhora de si, orgulhosa de suas origens e de seu lugar, desafiando o sistema que oprimia e violentava seus pares sem jamais baixar a cabeça ou o volume de sua voz.

“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.” (Angela Davis, Conferência na UFBA, em 2017).

Essa afronta a fez colher frutos não muito agradáveis em 1969, foi demitida do cargo de professora de Filosofia da Universidade da Califórnia por sua associação com o Partido Comunista americano e com os Panteras Negras, e nos primeiros anos da década de 1970, Angela viria a ser perseguida, colocada na lista dos 10 criminosos mais perigosos do país, condenada e presa sem provas.

A reação à sua prisão foi intensa, canções como “Angela”, de John Lennon e Yoko Ono, e “Sweet Black Angel”, dos Rolling Stones, foram compostas em tributo a ela.

“Irmã, há um vento que nunca morre. Irmã, estamos respirando juntos. Angela, o mundo olha por você”, escreveu Lennon.

Após um ano e meio de encarceramento, em 1972 o júri (composto exclusivamente por pessoas brancas) desatrelou ela aos supostos crimes cometidos pelo partido, como tráfico de armas e considerou a ativista enfim inocente.

Depois da prisão, Angela se dedicou a estudar história, estudos étnicos, estudos femininos e história da consciência em diversas das maiores universidades dos EUA e do mundo.

A militância e a política, contra o sistema carcerário americano, a guerra do Vietnã, o racismo, a desigualdade de gêneros, o sexismo, a pena de morte, a guerra ao Terror de George W. Bush e em apoio à causa feminista e gay de maneira geral, jamais deixaram de pertencer a ela.

Hoje aos 75 anos foi um dos nomes mais importantes da Marcha das Mulheres, discursou contra as falas e as políticas de caráter racistas, xenófobos e autoritárias do novo presidente dos EUA, Donald Trump.

A identidade feminina e a construção em cada espaço histórico são escritas por sua diversidade cultural.

Angela Davis segue lutando desde 1960 por um mundo melhor e mais justo, encorajando e empoderando legiões de mulheres, que por suas crenças não se encontram sozinhas.

Referências

PAIVA, Vitor. A vida e a luta de Angela Davis, desde os anos 1960 até o discurso na Marcha das Mulheres nos EUA. Hypeness, jan. 2017. Disponível em: <https://www.hypeness.com.br/2017/01/a-vida-e-a-luta-de-angela-davis/>. Acesso: 20 dez. 2019.

PASSOS, Úrsula. Mulheres negras são raivosas e isso é bom, diz Angela Davis em São Paulo. Folha de São Paulo, 19 out. 2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/10/mulheres-negras-sao-raivosas-e-isso-e-bom-diz-angela-davis-em-sao-paulo.shtml>. Acesso em: 20 dez. 2019.

Texto pertence a 3a. edição da revista Helenas.

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