[ENTREVISTA] Fernanda Dotti, a artista autodidata bauruense #h14

Inspirada por temas como botânica, animais e figuras femininas, a jovem artista vê sua arte como meditação

Helenas
revistahelenas
5 min readJan 26, 2021

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Por Isabelle Maturana e Francimeire Leme

Arte: Beatriz Vidal/Revista Helenas. Foto: Fernanda Dotti/Arquivo Pessoal

Fernanda Dotti, 37, é bauruense, graduada em Ciências Biológicas, pesquisadora na área de Genética e Conservação e professora colaboradora na Unesp. “Sempre me encantei com a natureza e justamente por isso me formei em Ciências Biológicas. Acredito no poder da educação como agente transformador da nossa sociedade. Tento valorizar as coisas mais simples e, para mim, viajar (para onde quer que seja, um lugarzinho novo aqui do lado ou para outro país), conhecer histórias de lugares e pessoas, são os melhores presentes possíveis. Família, plantas, gatos e cachorros são essenciais na minha vida”, conta Fernanda.

Com a finalidade de dar espaço e visibilidade às mulheres artistas locais, a Revista Helenas conversou com Fernanda Dotti sobre sua arte e motivação artística.

“Cada pintura marca uma época. Mas acho que algumas das primeiras pinturas, de olhos e mãos, que refletiram um momento onde passei por problemas de saúde, são especiais”, explica Fernanda Dotti. Foto: Fernanda Dotti/Arquivo Pessoal

A Fernanda artista…

RH: Como foi o seu começo no desenho/pintura?

Há algum tempo sentia que precisava desenvolver algo só meu, algo que pudesse me expressar de alguma forma. Em 2017, mais ou menos, depois da sugestão de uma amiga maravilhosa, tomei a coragem de experimentar a pintura com aquarelas.

Sou autodidata e no começo rolavam cobranças, ficava frustrada em não conseguir expressar o que sentia através das pinturas. Já rasguei muito papel. Mas quando comecei a deixar as cobranças e o olhar “do outro” de fora, tudo começou a fluir melhor.

A partir daí, sempre encontro um tempo para a arte e tento aprender novas técnicas. Não consigo mais ficar sem pintar, para mim é uma meditação.

Inspirada por temas como botânica, animais e figuras femininas, a jovem artista Fernanda Dotti vê sua arte como meditação. Foto: Fernanda Dotti/Arquivo Pessoal

RH: Como você define seu estilo de arte?

Meus trabalhos até o momento envolvem pintura em papel com aquarela, grafite, lápis de cor e nanquim. Geralmente uso tons de cores mais frias e também gosto muito da sobreposição de fundos e sombras.

Foto: Fernanda Dotti/Arquivo Pessoal

Apesar de ser bem detalhista em alguns temas, não busco o realismo. Na pintura com aquarela, além da tinta e água, também é possível utilizar sal e álcool. Essas técnicas permitem criar manchas no papel que não são totalmente controláveis. Gosto bastante dessa imprevisibilidade e do caminho próprio que a tinta faz no papel. Os temas giram em torno de botânica, animais, paisagens e figuras femininas.

RH: Tem alguma inspiração? Alguém ou algo que você olha, e já te solta a imaginação?

Os artistas que mais me tocam a alma são Van Gogh, Frida Kahlo, Clarice Lispector e Pablo Neruda.

Minhas inspirações vêm de diversas fontes como pintores de vários estilos, fotografia, esculturas, literatura e poesia. Acho muito importante ampliar e trabalhar o “olhar” e se conectar com a vida cotidiana, sensações e lugares.

Em especial me inspiro bastante na natureza em si: o corpo humano, gestos, expressões, plantas, animais, horizontes, céus, luas e paisagens. As mulheres também me inspiram, nossas lutas, ciclos, dores e amores. Espero um dia conseguir retratar todas minhas ideias. Por enquanto, muita coisa ainda está guardada como rabiscos em muitos caderninhos e papéis.

RH: Como a arte te ajuda no dia a dia? (Como se sente ao realizá-la no dia a dia?)

Me ajuda a desconectar da ansiedade e preocupações dos tempos atuais. Me sinto livre.

RH: Sei que é uma pergunta difícil, mas dentre todas as obras que já criou, existe alguma que é xodó?

Difícil mesmo. Cada pintura marca uma época. Mas acho que algumas das primeiras pinturas, de olhos e mãos, que refletiram um momento onde passei por problemas de saúde, são especiais.

Foto: Fernanda Dotti/Arquivo Pessoal

RH: Como está sendo o seu trabalho durante esse período de pandemia? Afetou de alguma forma?

São semanas de inspiração alternadas com semanas de bloqueio e procrastinação.

RH: Vemos em diversos setores um machismo escancarado, desigual. Na arte você sente o mesmo? Como estão as oportunidades para as mulheres?

Eu sinto que um dos grandes problemas é a questão da representatividade das mulheres na arte. O machismo é histórico e por muito tempo as mulheres eram empurradas a cumprir o papel pré estabelecido de cuidar da casa e filhos, enquanto os homens podiam colocar em prática seus planos e ideias. Não só com a arte, mas política, esportes, enfim, diversas áreas.

Muitas mulheres não conseguiram desenvolver seus talentos ou nem chegaram a ser reconhecidas. Se pegarmos o início da história da arte ocidental por exemplo, existem inúmeros exemplos de artistas homens reconhecidos como gênios e mulheres aparecendo apenas como musas inspiradoras e modelos.

Foto: Fernanda Dotti/Arquivo Pessoal

Também existem outros fatores que acentuam a desigualdade, como renda, sobrecarga e cobranças relacionadas à maternidade, mulheres negras, lésbicas, trans etc. O homem artista branco, heterossexual e classe média-alta possui um papel histórico de decidir qual tipo de arte é boa ou não. É algo muito importante para se discutir.

Atualmente não trabalho diretamente como pintora e estou começando neste universo artístico, então não tenho muito poder de fala nesta área de atuação. Já passei e vivenciei muitas situações de machismo como professora, por exemplo. Na realidade, passamos por isso todos os dias e acredito que o machismo direto ou velado ainda abrange todos os espectros de atuação feminina e temos um longo caminho para lutar e diminuir as desigualdades.

RH: Onde podemos te encontrar para adquirir e prestigiar o seu trabalho?

Eu exponho minhas pinturas no instagram @fernanda_dotti_arts.

Foto: Fernanda Dotti/Arquivo Pessoal

Revisão linguística e técnica por Julia Mendonça.

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