[Entrevista] Patrícia Lima conta sobre o lançamento do livro “O amor é um solo de jazz” #h9

Primeiro livro da escritora é lançado pela editora Patuá

Helenas
revistahelenas
5 min readJun 26, 2020

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Por Francimeire Leme

Primeiro livro da escritora Patrícia Lima é lançado virtualmente pela editora Patuá. Foto: Divulgação

A mulher e a sanfona

Sobre a fronte da casa

se balança

uma senhora

os olhos já não enganam

a idade ou as tristezas

no titubear das lembranças

uma sanfona vermelha

pesa em seu colo macio

os braços asas

perseguem notas

ávidas por

enamorar desconhecidos

e fazer crianças

correrem sem amanhã

tanta alegria

será memória ou será sonho?

a voz do marido

ecoa na sala vazia:

sanfona é coisa de puta!

o despertador toca

e

na mão do marido

o sonho se desfaz

ela se levanta

para aquecer água

o apito agudo da chaleira

o timbre que lhe restou.

(Patrícia Lima)

A escritora Patrícia Lima conta um pouco sobre sua vida literária e sobre o lançamento de seu primeiro livro, “O amor é um solo de jazz”, neste ano em Bauru-SP.

Patrícia é graduada em Letras (USC) e tem especialização em Linguagem, Cultura e Mídia (Unesp). Nasceu em São Paulo-SP, onde viveu até os 19 anos, mudando-se então para Bauru-SP, onde se formou. Hoje atua como servidora pública da Unesp. Escreve contos e crônicas no blog Dança das Palavras e teve poemas publicados em antologias e jornais literários. É idealizadora e coordenadora do grupo de leitura bauruense Cevadas Literárias, em atividade desde 2017.

“O Amor é um solo de jazz” é fruto de experiências diversas da escritora. Ela conta que as decepções amorosas lhe deram impulso para escrevê-lo. Com 4 partes, que versam sobre escrita, literatura, alteridade, amor e jazz — o livro acabou indo muito além da temática amorosa.

Conversamos com a escritora para saber mais sobre seu livro de estreia, lançado virtualmente pela editora Patuá no dia 10 de junho. Confira a seguir a entrevista completa com Patrícia Lima:

Patrícia Lima. Foto: Arquivo pessoal

Por que e para quem você escreve?

Escrevo primeiramente porque amo literatura. Também acho que encontrei na escrita um modo genuíno de me expressar. E escrevo para quem quiser ler. Eu acho que as pessoas sensíveis às relações humanas e às delicadezas da vida irão desfrutar da minha literatura. Porém eu sempre escrevo pensando que literatura é algo para todos.

Quando começou a escrever?

Comecei a escrever músicas e poemas na adolescência, quando senti necessidade de expressar sentimentos mais elaborados, como os relacionados ao apaixonamento, à sexualidade, aos conflitos familiares, às percepções sobre a desigualdade. Mais adulta, além de poesia, comecei a produzir crônicas e contos.

Quais autores(as) influenciaram seu estilo literário?

Ainda que meu primeiro livro seja de poesia, penso que a Clarice Lispector (exímia contista e romancista) me influenciou muito. O texto dela esmiúça o banal para pensar sobre a existência. Tirar grandiosidade do que é pequeno, isso me interessa muito como artista. Outros escritores que me influenciam: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Adriana Lisboa, Ana Martins Marques, Mia Couto, João Anzanello Carrascoza.

Qual é o seu livro de cabeceira?

Minha bíblia é o “Todos os contos” da Clarice Lispector, sempre retomo como estudo e apreciação. Mas atualmente estou lendo dois livros: “Homens imprudentemente poéticos”, de Valter Hugo Mãe e “No final da tarde”, de Kent Haruf. Gosto de alternar leituras bem diferentes. Quando canso de uma visão ou ritmo, vou à outra.

O que lhe inspirou a escrever “O amor é um solo de jazz”?

Iniciei o livro após sucessivas decepções amorosas. Resolvi correr atrás das palavras ao invés de correr atrás do amor (ao menos, do amor romântico). Foi um dos melhores impulsos que a melancolia já me trouxe.

Já tinha inevitavelmente alguns poemas de amor, mas quando decidi que seria um livro, percebi que queria mais. Acabei formando 4 unidades temáticas: “Da ventania à palavra”, que traria reflexões sobre o processo de escrita e sobre a literatura; “A casa do outro”, teria poemas sobre alteridade — uma tentativa linguística de estar na pele do outro, especialmente daqueles silenciados historicamente; “Corpo-casa”, traria o elo entre a infância e a idade adulta: a construção de nosso próprio espaço interno; e o “Amor é um solo de jazz” ponderaria sobre o amor num viés contemporâneo e musical.

Como surgiu a ideia para o nome do livro?

Eu sou apaixonada por música. Num dia, tocando bateria, eu tive um pensamento rudimentar como “O amor parece um solo de bateria. Difícil de aprender e igualmente arrebatador”. Como eu estava ouvindo muito jazz na época, fui pensando nessas coisas. Fazendo analogias entre os elementos do jazz e o amor. Ambos cheios de improvisos, complexidade e beleza. Para além da bateria, quis contemplar outros instrumentos, como saxofone, guitarra, baixo e piano. Acabei achando que cairia melhor “O amor é um solo de jazz”.

Como é possível adquiri-lo?

Através do site da Editora Patuá, no link:

Em breve estará também disponível na Amazon.

O que você gostaria de dizer às pessoas, principalmente mulheres, que estão começando a escrever?

Escrevam e leiam muito. E não sejam tão duras consigo enquanto escrevem, senão o texto não sai. As mulheres tendem a ser muito duras consigo (não à toa). Eu demorei 10 anos para ter coragem de publicar meu primeiro livro. Estudem e ouçam outros escritores. Aceitem o processo de aprendizado, que é longo. Mas não se boicotem. E ajudem outras mulheres a ganhar segurança para escrever e publicar, o mundo precisa ouvir o que as mulheres têm a dizer.

Qual a sua sugestão de leitura para os tempos de pandemia?

Sugiro não ler as notícias. Brincadeira, ler as notícias, sim, porque se informar é preciso, mas ler grandes autores como José Saramago, Machado de Assis, Clarice Lispector, Guimarães Rosa — para lembrar que a beleza, a inteligência e a dignidade são universos possíveis, ainda que pareça tão difícil de acreditar.

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Francimeire Leme. Foto: Arquivo pessoal

Francimeire Leme é Linguista, fascinada por Literatura, Cinema e Fotografia. Aspira um mundo com igualdade de gênero realmente, sem nenhum tipo de opressão e exploração humana.

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