Festival Fuzuê014: alternativas de divulgação cultural bauruense em meio à pandemia #h11

Primeiro festival multicultural on-line de Bauru tem permanência de mulheres na produção

Helenas
revistahelenas
7 min readAug 28, 2020

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Por Nicole Aquino e Rebeca Almeida

“Além de produtoras, somos artistas. A plataforma que o Fuzuê014 se tornou é de trocas, criamos uma rede onde ideias vão surgindo. O que os artistas querem passar como mensagem?” É esse o questionamento que Liliane Azevedo, 25, vê como necessário fazer para que o primeiro festival multicultural on-line de Bauru siga realizando atividades.

Liliane, formada em publicidade e propaganda e atuante em produção cultural de eventos alternativos, trabalha com a curadoria de artistas circenses e na publicação de stories no Instagram, principal plataforma de divulgação do Festival. Ela integra uma rede composta por 10 artistas que fazem a produção do Fuzuê014, um festival multicultural e beneficente que surgiu em abril de 2020 com o intuito de movimentar a produção cultural em meio à pandemia do coronavírus.

Tiago Rosa, 30, Carolina Guerra, 26, e Matheus Anástacio, 24, idealizaram o festival com o objetivo de dar visibilidade a artistas independentes de Bauru e região. “A gente sempre teve contato com artistas independentes pois eles sempre foram parte do nosso círculo de amizade. Muita gente se conectou pela casa Alunte, que existia em Bauru com o intuito de reunir arte e cultura bauruense. De início o Fuzuê014 seria apenas uma reunião com os amigos, mas tomou proporções maiores: hoje contamos com dez organizadores, sendo sua maioria composta por mulheres”, explica Carolina Guerra, 26, professora de língua portuguesa, produtora cultural e idealizadora do evento on-line.

Desde então a popularidade do Festival aumentou: são 3.799 seguidores no Instagram que visualizam publicações diárias de fotos, textos ou vídeos com conteúdo de artes cênicas, galeria de artes visuais e artesanais, poemas, lives musicais e bate-papos sobre cultura e sociedade. Nesse sentido, o Festival atua de forma a desestagnar a cultura bauruense durante a pandemia de Covid-19, promove a visibilidade de artistas e a produção de conteúdo, incentivando também a manutenção da quarentena.

Arte: Rebeca Almeida

Elas se articulam
Ao todo, o Fuzuê014 possui uma equipe de 10 pessoas na organização, distribuídas em funções de acordo com a predisposição de cada. Mulheres são maioria: são 6 as que estão por trás de todo o planejamento. Quem integra a produção atualmente pode ter somado por interesse próprio ou ter sido convidado, de acordo com as necessidades.

Bauruense que se aventura pela cidade de São Paulo, Isabela Morales, 24, faz a curadoria das lives musicais e auxilia nas de conteúdo, atuando como diretora artística do Festival, onde alinha todas as necessidades técnicas e artísticas. Ela é organizadora e também idealizadora de novas atividades que possam ser realizadas na plataforma.“Sempre fiz vários eventos, primeiro foram eventos independentes na cena do skate feminino, depois fiz parte de uma grande agência de produção de eventos culturais e corporativos. Sinto que tenho muito a contribuir com a minha experiência em eventos culturais na cidade e no Festival”, relata.

Quando viu as primeiras publicações no Instagram, Isabela decidiu se juntar ao trabalho: “vi a movimentação acontecendo on-line, mas ainda não tinha nenhum line-up divulgado. Resolvi mandar um direct perguntando se precisavam de ajuda. Sou muito ligada em arte e cultura”.

Quando Isabela mandou uma mensagem para o perfil do Fuzuê014 no Instagram já havia uma rede de pessoas empenhadas na realização do festival, como Carolina Guerra, que também é atuante na produção executiva e na produção de editais, Laura Schiavinato, 22, criadora da identidade visual em parceria com Mateus Nardini, 23, pela Nblu Neptune, e Poexistindomarginal (nome artístico de Mariana Lacava), 25, organizadora e curadora da área de poesia e literatura.

Arte: Rebeca Almeida

Agregar pessoas que queiram contribuir é um dos ideais que sustenta o Festival, já que é feito de forma totalmente voluntária. Foi o caso de Ana Evaristo, 21: “fui convidada por outras pessoas que já estavam na curadoria antes de mim. Minha primeira participação foi com um vídeo, como atriz. Depois, surgiu a demanda de ter alguém responsável pelos vídeos, que conhecesse a cena bauruense. Então, eu fui convidada, e é o que faço hoje com outros artistas, na curadoria do IGTV”.

Parceiros por uma causa

Articular-se em coletivo é uma das formas de iniciativas de diferentes naturezas terem mais possibilidades de atuação, justamente pela possibilidade de apoio mútuo. Nesse sentido, o Festival mantém parcerias com o Jornal Dois, Fumacê, Coletivo Filhos da Terra, Na Base Produções, Legalab, NBLU Neptune, Ratoeira Tip, SubVersoslam, Tres4 e Social Bauru. Segundo Carolina Guerra, “as parcerias só enriquecem o cenário cultural bauruense, todas com um intuito em comum que é a arte e a cultura. Um somando com o outro. O Fuzuê014 abraça todo mundo”.

Uma das frentes do Festival é também o apoio às pessoas em situações de vulnerabilidade, agindo de forma beneficente. Em abril, mês de sua fundação, o Festival arrecadou produtos por meio de uma vaquinha no Catarse -uma plataforma de financiamento- que foram destinados às famílias do Parque Primavera afetadas pela pandemia de Covid-19.

A parceria agora é com o projeto “De Grão em Grão”, que atua em doações solidárias para famílias em situação de vulnerabilidade em Bauru. “Todo mês, no dia 20, passamos na casa das pessoas que querem doar, mas não podem sair”, explica Carolina.

Além de ter função beneficente, o incentivo a espaços culturais da cidade é constante e permanente, como forma de manter a rede de articulação artística sempre entrelaçada. Exemplo é o recente apoio à campanha de financiamento do Espaço Protótipo, localizado no centro de Bauru. O Protótipo realiza shows, apresentações artísticas, aulas e ensaios teatrais, mas teve suas atividades interrompidas por conta de pandemia. Dessa forma, busca continuar atuando de forma adaptada.

Cultura independente na pandemia
O Instagram tem sido uma verdadeira galeria para artistas que buscam visibilidade. Em meio à crise sanitária generalizada, que impactou artistas e iniciativas, aqueles que sobrevivem da arte precisam garantir que ela — fonte de renda — permaneça circulando.

Diferente dos grandes bilionários, que aumentaram a fortuna em US$ 34 bilhões durante a pandemia, a cultura foi a primeira a sentir o impacto da crise. Em Bauru, um dos primeiros lugares a suspender as atividades foi o Teatro Municipal “Celina Lourdes Alves Neves”, que desde 18 de março de 2020 interrompeu a agenda de eventos presenciais.

Depois de três meses de crise uma resposta do governo local começou a aparecer. Apenas em junho a Secretaria de Cultura de Bauru conseguiu se articular em socorro aos artistas, com o projeto “Viva a Cultura”, que visa remunerar apresentações artísticas transmitidas em canais virtuais. A Prefeitura também organizou um cadastro de artistas e espaços culturais que poderá ser utilizado para a lei federal Aldir Blanc (n° 14.017/2020), em apoio a pessoas físicas e jurídicas.

Em contraponto à morosidade do setor, a cultura de iniciativa independente já abria o espaço para artistas ainda em abril, priorizando a diversidade de linguagens artísticas e a articulação conjunta: “Bauru sempre prioriza artistas que têm mais destaque na cidade e esquecem de artistas mais periféricos, nosso objetivo é transmitir as informações para que elas cheguem nesses artistas independentes também”, analisa Carolina. A produtora enfatiza também que Fuzuê014 possibilita “oportunidade para que os artistas consigam alcançar as informações relacionadas às políticas públicas”.

“Arte independente é política”
Como festival independente e beneficente, o Fuzuê014 se empenha em manter ações que gerem apoio à camadas sociais vulneráveis, mas também busca se articular para fortalecer o cenário cultural por meio da divulgação de políticas do poder público. A plataforma se mobilizou para divulgar o Fórum Regional de Cultura de Bauru, iniciativa que abrange 39 municípios em prol da cultura e o cadastramento de artistas e profissionais da cultura da Prefeitura de Bauru, que começou no dia 28 de julho.

Arte: Rebeca Almeida

Essa articulação coloca a cultura e arte em movimento nas camadas sociais, como explica Isabela Morales: “acredito que a arte independente sempre esteve de mãos dadas com a rua, e a rua sempre esteve atrelada às vulnerabilidades e às ações sociais. Somos, além de artistas, uma plataforma que dá visibilidade a esses artistas, é coerente que haja uma troca nossa com a rua. Achamos importante ressaltar que arte independente é política”, explica.

Arte: Rebeca Almeida

Mas como conseguir usar de editais públicos disponibilizados para auxílio da classe artística? Liliane Azevedo entende que a dificuldade também está na forma como o poder público se organiza: “infelizmente as reuniões não são acessíveis para muitos artistas. Há uma falta de todas as secretarias, não só a de Bauru, em se aproximar dos artistas, de todos os segmentos, democratizando os editais para todos terem acesso e conseguirem participar”.

Cultura em diversas linguagens
Agregado a toda mobilização em prol da popularização e articulação cultural, existem muitas possibilidade de consumo de arte. Atualmente, o projeto se empenha na divulgação de trabalhos manuais em artesanato, junto com diversos materiais que podem ser vistos no perfil do Instagram.

O Festival Fuzuê014 já realizou uma mostra audiovisual em parceria com o ICine — Fórum de Cinema do Interior Paulista e diversas lives com artistas da região. Além disso, é possível encontrar diversas indicações de artistas e movimentos. Para acompanhar o que artistas da região de Bauru estão possibilitado durante a pandemia do século XXI, o perfil é @fuzue014.

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