Indica Manas #22 — Revisitando e inovando o Indica Manas!

Helenas
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9 min readJun 11, 2024

Por: Larissa Mateus

A seção Indica Manas é uma das principais marcas de nosso instituto, desde a época que éramos apenas revista. Com sua origem em 2019, esse segmento exemplificou o objetivo das Helenas da maneira mais direta possível: iluminar pautas feministas em Bauru através da divulgação de trabalhos feitos por mulheres, para mulheres. Ao indicar serviços e produtos feitos por mulheres da região, criamos e fortalecemos uma rede de contato profissional, além de trocar experiências e partilhar o que nossas manas da cidade têm realizado.

Retornando ao Indica Manas, em nossa vigésima segunda edição, vamos revisitar alguns negócios que já recomendamos e divulgar outros trabalhos!

ECONOMIA CRIATIVA

Nos cinco anos de história do Indica Manas, uma coisa ficou clara: a economia criativa tem uma presença feminina forte em Bauru. Essa realidade vai além da cidade, porém, e abrange o mundo todo: de acordo com o último relatório mundial do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 2022, a América Latina foi a região com o maior número de ações empreendedoras por mulheres, com aproximadamente 54% das startups sendo iniciativas femininas.

O relatório da GEM de 2022 especificamente conduzido no Brasil também demonstrou aumento de mulheres, pessoas mais jovens e de baixa escolaridade no mundo do empreendedorismo. Ademais, mostrou que os negócios femininos continuam uma modalidade solitária: 65% das empresas lideradas por mulheres são conduzidas apenas por suas idealizadoras– sem mais empregados ou associados.

A crescente inserção feminina no campo dos negócios vem sido estudada academicamente na última década, e estudiosos confirmam que essa tendência indica o empreendedorismo como uma alternativa profícua de entrada da mulher no mercado de trabalho, seja para auto-sustento, realização pessoal, profissional ou independência financeira. A economia criativa, por sua vez, se alinha ao empreendedorismo feminino com a garantia de atuação em trabalhos não tradicionais, com a liberdade de tomar suas próprias decisões e adquirir maior independência financeira.

Mas o que, exatamente, é a economia criativa? De acordo com o último Mapeamento da Indústria Criativa do Firjan, sua definição ainda é muito debatida, mas se pode dizer que essa modalidade de negócios se encontra na intersecção entre artes, cultura, empreendimentos e tecnologia. Em 2020, eram mais de 935 mil brasileiros empregados formalmente na economia criativa, demonstrando um aumento de 11,7% no último mapeamento de 2017.

É nesse cenário que encontramos as mulheres nas indústrias criativas em Bauru. Apesar do contexto solitário e difícil disposto nos relatórios, as empreendedoras enfrentam a falta de incentivo financeiro, a precarização do emprego e os preconceitos sociais criando redes de apoio e conexões. Em nossa cidade, são inúmeras as iniciativas que acolhem todos os tipos de mulheres, com todas as interseccionalidades, e nos lembram de nosso antigo mantra: uma sobe e puxa a outra!

Happig

Kamila e Beatriz comandam juntas há 10 anos a loja de produtos veganos e naturais || Foto: Kamila Feldenheimer/Arquivo Pessoal

A loja com quase 200 itens artesanais veganos já faz parte da história do Indica Manas desde seu primeiro ano de publicação, em sua terceira edição! O tempo passou, mas o negócio continua bombando– dirigido por Kamila Feldenheimer e Beatriz Wenzel, a Happig fez 10 anos em 2024 e trouxe consigo muita nostalgia, orgulho e, claro, produtos veganos de ótima qualidade!

Em um momento de desemprego, Kamila percebeu a falta de variedade de comidas veganas na cidade de Bauru. “Como eu não como carnes há mais de 20 anos, sempre quis comer coisas gostosas que não existiam por aí. Quando me vi sem emprego, pensei: se eu passo por isso, as pessoas como eu também passam, então porque não fazer esse rango?” — essa ideia foi o estopim para o início de seu negócio. Com uma venda limitada de strogonoffs, feijoadas e hambúrgueres veganos, a Happig iniciou sua trajetória que, em maio, completou uma década.

“Para mim, economia criativa é fazer o nosso dinheiro girar entre a gente, entre pessoas reais e pequenos negócios”, explicou Kamila. A empresária foca em produzir com produtos locais, e caso não consiga atender alguma demanda de seus clientes, sempre indica empreendedores da cidade. Essa dinâmica de colaboração é uma das características mais emblemáticas da economia criativa e também representa um dos principais valores da Happig: “É toda uma comunidade que mantém a gente em pé. Tentamos nos conectar com gente como a gente, que entende que nossa existência vai muito além de existir. Independente das causas que você abraça, você está aqui, lutando.”

Além da luta por uma alimentação saudável e vegana, a loja também visa a construção de um ambiente acolhedor, principalmente para pessoas da comunidade LGBT. “Eu brinco que aqui somos especializadas em atendimento LGBT”, brincou Kamila, que faz parte da comunidade e sempre buscou criar um lugar que representasse a luta respeito e diversidade. “Algo que eu gosto muito é de quebrar esse estereótipo de um empreendedor homem, branco e cis. Eu estou aqui há 10 anos; se eu posso, você também pode ocupar essa posição, e todes devem ocupar, sim.”

Para conhecer e apoiar seu trabalho, acesse e siga suas redes sociais:

Instagram: @happigveg

Goomer: https://happig.goomer.app/menu

Endereço: Rua Júlio de Mesquita Filho, 607

Titta Crespos e Cachos

Titta está com o salão reformado dentro da Casa Autoral || Foto: Larissa Mateus

Cátia Santos, também conhecida como Titta, participou do Indica Manas lá em 2021. Nessa época, a cabeleireira tinha acabado de se estabelecer na Casa Autoral, um espaço emblemático da Economia Criativa bauruense: fundado por Thais Siqueira e Roberta Monson, a loja colaborativa reúne atualmente 50 marcas originais da cidade! Com o apoio e espaço da Casa Autoral, o salão “Titta Crespos e Cachos” só tem de pequeno o ambiente, pois seu impacto e crescimento continuam firmes e fortes, assim como o cabelo de todos os clientes!

Recentemente, o salão de Titta passou por uma reforma para combinar com a renovação da Casa Autoral. Além da remodelação e da rede de apoio oferecida pelo espaço colaborativo, a empreendedora se prestigia por proporcionar um ambiente intimista e único, tanto para o cliente quanto para ela mesma. “Eu não gosto de salão, então ter esse espaço alternativo para mim atende muito minhas necessidades. Estar inserida na Casa Autoral também é muito importante porque eu trabalho sozinha, mas não passo os dias sozinha. Eu aprendo muito com as meninas e uno forças com elas.”

Sua história na economia criativa começou com a própria iniciativa de abraçar seu cabelo natural. Após anos de relaxamento capilar, Titta sofreu um corte químico severo e decidiu raspar a cabeça– e no lento processo de adquirir comprimento, percebeu a falta de cabeleireiros especializados na textura crespa que não utilizassem química. Assim, a até-então designer gráfica resolveu o problema com as próprias mãos, fazendo inúmeros cursos para se profissionalizar na área.

“O meu empreendedorismo é atravessado por minha identidade como mulher preta. Eu nunca fui amparada no sentido de aparência, nunca pude ter meu cabelo natural e meus próprios traços nunca foram bem quistos… então com o meu salão, eu trago mais do que só um corte. Eu trabalho com autoestima, com empoderamento”, explicou Titta sobre sua iniciativa. Seu trabalho combate a branquitude dos padrões de beleza, e até as tendências de “cachos perfeitos”, engessados. Titta, com seus serviços de transição capilar e cortes a seco, incentiva todos a abraçarem seus cabelos naturais, em suas texturas naturais.

Para conhecer e apoiar seu trabalho, acesse e siga suas redes sociais:

Instagram: @tittacresposecachos

Endereço: Av. Nossa Senhora de Fátima, 11–53

SIQX

Thais não é mais a única costureira da SIQX, mas todos os designs são seus || Foto: Larissa Mateus

Novidade para o Indica Manas, a SIQX é uma marca autoral de lingerie e moda casual, criada por uma das idealizadoras da Casa Autoral: Thais Siqueira! Em oito anos de história, a SIQX saiu do papel em Paraty e se estabeleceu em Bauru como uma marca de aceitação e celebração de todos os tipos de corpos. Entre kimonos, sutiãs e calcinhas com designs únicos, as peças de renda são feitas com carinho para valorizarem as curvas, cores e texturas de todas as mulheres.

“Economia Criativa é tentar pensar fora da bolha, sair do que é a engrenagem do sistema econômico no geral. É para a gente fazer, produzir — que tenha uma renda também — mas que acaba puxando também para esse lado da criatividade da auto-realização”, explicou Thais. O trabalho criativo sempre fez parte da vida da empreendedora, que acompanhava o ofício da mãe como costureira desde pequena. Aprendendo com ela, a paixão a acompanhou mesmo quando começou a ir por outros caminhos profissionais, através da graduação em Jornalismo.

Após atuar em várias áreas, Thais redescobriu a paixão pela moda íntima e abraçou a possibilidade de trabalhar com a criatividade. Na mesma época em que idealizou a SIQX, descobriu que estava grávida do filho, Sean– e após muita luta, algumas pausas e reinvenções, trouxe a marca para Bauru em 2018. “Hoje em dia eu não me vejo fazendo outras coisas. Isso da criação e também a autonomia como microempreendedora é libertador. Geralmente as mulheres procuram isso a partir do momento que elas têm filhos, mas eu me vi assim muito antes de vir o Sean. Eu não me imaginava como mãe, mas aconteceu de eu ter o meu maior tesouro, e empreender me ajudou a ter independência antes mesmo de ele nascer.”

Além de ser um símbolo da luta de Thais por essa liberdade econômica, a SIQX traz consigo a luta por auto-aceitação, autocuidado e, por consequência, auto-amor. “Eu prego muito esse lance da autoestima, de você ser dono do seu corpo e de se aceitar do jeito que você é. Sem bojo, sem essa ideia de atingir um padrão. A mulher é livre, inclusive para se amar exatamente como ela.”

Para conhecer e apoiar seu trabalho, acesse e siga suas redes sociais:

Instagram SIQX: @siqx.com.br

Site SIQX: https://www.siqx.com.br/

Instagram Casa Autoral: @casa.autoral

Site Casa Autoral: https://www.casaautoral.com/

Endereço: Av. Nossa Senhora de Fátima, 11–53

MODA CRESPA

Joias e decorações de macramê são apenas parte da arte de Maisa Crespa! || Foto: Casa Mangue/Arquivo Pessoal

A segunda novidade deste Indica Manas é a Moda Crespa, marca de artesanato e biojoias por Maisa Adrielle da Silva. A empreendedora, apelidada de Maisa Crespa, trabalha há uma década com o resgate cultural da arte africana e indígena em todos os seus produtos. Conectando sua ancestralidade com suas experiências, Maisa diz com o seu negócio que o saber e o produzir, quando alinhados, são sinônimos de resistência.

A produção, a venda dos produtos e a administração do negócio são feitas inteiramente por Maisa. Filha de assentados (ou seja, de trabalhadores beneficiados pela política governamental de reforma agrária), carregar a herança artesanal em seu sangue e construir a própria são dois motivadores essenciais para a artista: “A minha família é uma família de artistas. Trabalhar com biojoias hoje começou com o nosso assentamento, muitas das joias são feitas com sementes colhidas do sítio. Eu sempre tento, aliás, expandir a produção de sementes para deixar meu legado para quem vem depois, porque foi graças ao legado dos meus pais que eu posso viver da arte hoje.”

A Moda Crespa é também um grande exemplo para o afroempreendedorismo em Bauru, participando inclusive do documentário “ESCURECIMENTO” sobre a mesma temática. Maisa diz que seu negócio é um sinal de resistência como mulher preta, possibilitando-a viver da arte em um sistema econômico que desrespeita sua cor e seu estilo de vida. “O nosso mercado de trabalho ainda não está adepto a aceitar e respeitar as diferenças, e eu ser afroempreendedora me influenciou a ser livre: posso ser o que eu quiser, e com a independência que adquiri isso não vai mudar nada da minha renda e me impossibilitar de fazer o que eu gosto.”

Em seus dez anos de ofício, a Moda Crespa passou por inúmeras situações que provam sua resiliência. “Há uns dois, três anos atrás, a prefeitura deu uma ordem para ‘limpar o calçadão’ em que eu e outros artistas estávamos trabalhando. É como se fossemos sujeira, mas somos artistas. A arte salva, e mesmo que a burguesia não queira ver a gente no topo, nós estamos aqui para lutar e resistir”, contou Maisa. A marca não possui uma loja física, então a venda de seus produtos é por encomenda, no Calçadão da Batista, na Esquina da Resistência ou esporadicamente em eventos.

“É através da minha arte que eu vejo que eu consigo inspirar outras pessoas a serem o que são, e a não terem medo de ser livre e fazer as coisas que amam”, disse a empreendedora. Seu negócio abre um espaço para que ela possa se expressar, e objetiva incentivar que outras pessoas, e até futuras gerações como de sua filha, Zaira, possam encontrar a força para construir seus próprios negócios.

Para conhecer e apoiar seu trabalho, acesse e siga suas redes sociais:

Instagram: @modacrespa_

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Revisão textual: Giulianna Mazzali

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