Mulheres produzem mais poesia do que os homens em Bauru, segundo poetisa #h8

Lançamento da Antologia “Cães Bélicos” marca 21 anos do Grupo Expressão Poética

Helenas
revistahelenas
5 min readMay 26, 2020

--

Por Francimeire Leme

Grupo Expressão Poética. Foto: Divulgação

A revista Helenas conversou com a poetisa e escritora Ana Maria Barbosa Machado, 56, que é membro efetivo da Academia Bauruense de Letras e uma das fundadoras do grupo literário “Expressão Poética” sobre a produção poética de mulheres e acerca do lançamento da nova Antologia “Cães Bélicos”, marcando os 21 anos de existência do Grupo.

O Grupo “Expressão Poética” surgiu em agosto de 1999 na cidade de Bauru-SP e segundo seus fundadores(as) começou porque não tinham espaço para publicar suas obras, e com o objetivo de agrupar e integrar os(as) bauruenses apaixonados(as) por Literatura.

Confira a seguir a Entrevista completa com a poetisa:

Ana Maria Barbosa Machado. Foto: Arquivo pessoal

Como você vê a participação de mulheres na produção poética da cidade?

Ana Maria Barbosa Machado: Na minha opinião as mulheres produzem muito mais do que os homens. Eu não sei se é pelo cotidiano, pelo romantismo ou por tudo que a mulher vive. Eu acho que para ela é mais aceitável “o escrever”. E na cidade de Bauru-SP eu sempre vi isso florescer mais ativamente. No Grupo, nós temos mais mulheres do que homens. Na Antologia “Cães Bélicos” temos 52 autores, as mulheres estão em maior número. São 29 mulheres e 23 homens. A mulher sempre ganha na adesão aos nossos livros.

Qual é a proposta da nova Antologia Poética: “Cães Bélicos”?

Ana Maria Barbosa Machado: Cada Antologia que o Grupo organiza não tem uma proposta específica. O único intuito imediato é valorizar cada autor(a) e fazer com que ele(a) publique alguma coisa no coletivo, já que nem todos(as) têm a ambição de publicar algum livro sozinho(a). Então, a participação em uma Antologia geralmente é uma proposta inicial que cada autor(a) tem para sentir como é o primeiro impacto, ou seja, a receptividade da sociedade, das pessoas que eles conhecem de uma maneira geral.

E por que foi escolhido esse nome?

Ana Maria Barbosa Machado: O nome “Cães Bélicos” foi escolhido num primeiro momento de acordo com a leitura do livro. Nós da Organização do livro fizemos uma leitura geral de todos(as) os(as) participantes e o Vagner que é um dos fundadores do Grupo e um dos Organizadores de “Cães Bélicos”, pensou que a gente poderia tirar o nome do livro a partir de algum título de algum texto. Então, dentre os escolhidos, o título “Cães Bélicos” foi o mais votado. Os organizadores preferiram esse nome porque é um nome forte e impactante.

Como foi o processo de organização desta Antologia?

Ana Maria Barbosa Machado: Nas primeiras semanas e meses podíamos nos reunir, mas depois da pandemia fizemos uma interação virtual. Foi um pouco mais complicado. Mas no fim deu tudo certo. Conversamos, inclusive, mais ativamente com o diagramador, que também participa do livro e do Grupo desde o início. E estamos fechando a produção dessa maneira, conversando sempre por meio de um grupo de WhatsApp.

Quando e como será publicada? Como será possível adquirir o exemplar?

Ana Maria Barbosa Machado: Com certeza faremos um lançamento virtual e terá um exemplar em pdf. para divulgarmos nas redes sociais. Só que a gente ainda não está pensando nisso no momento. É importante comentar que este livro está sendo patrocinado pela Sociedade Amigos da Cultura (SAC). A SAC foi contemplada com uma verba do Ponto de Cultura. Assim, ela achou por bem premiar os grupos culturais da cidade, como do teatro, da literatura etc. Dessa forma, fomos contemplados para a produção deste livro. Por isso, eu ainda não sei como faremos para vender os exemplares por conta do isolamento social. Mas quando tiver resolvido, iremos divulgar.

O Grupo está organizando próximas publicações ou ações nesse período de pandemia?

Ana Maria Barbosa Machado: No momento não estamos pensando em nenhuma próxima publicação. O que estamos pensando é fazer um evento virtual para comunicar os(as) autores(as) quando o livro ficar pronto. Mas por enquanto o livro ainda não voltou da gráfica. Ele estará pronto ao final do mês. E nesse momento já iremos ter a data do evento virtual e divulgaremos.

Como você vê o processo criativo poético nesse momento?

Ana Maria Barbosa Machado: A gente vai fazendo as coisas a cada dia, a cada mês. E hoje especificamente estão falando que essa pandemia não vai ser por um tempo, nem por um ano, nem por dois. E talvez ela permaneça e seja uma endemia. Então, eu já não sei mais nada. Por que eu gosto de escrever alguma coisa quando já passou. Eu, particularmente, estou produzindo algumas coisas do momento que a gente está passando… Mas são coisas que necessariamente eu não queria estar passando…

A seguir mais informações sobre a Antologia Poética “Cães Bélicos”:

Comissão Organizadora: Ana Maria Barbosa Machado, Lauro Neto e Vagner Fernandes dos Santos.

Diagramador: Eduardo Viver.

Capa da Antologia “Cães Bélicos”. Foto: Divulgação

Introdução

Era noite, e tudo o que desejávamos era um punhado

de horas de sono.

Mas os cachorros, vendo o mundo através de suas lentes,

ladravam sem parar.

Os latidos varavam as horas noturnas cortando nosso

sossego, acabando com a possibilidade de entrarmos

no modo sono.

Repouso. Reparo. Descompasso.

Queríamos calá-los para que não mais nos incomodassem

e assim estarmos como deveríamos.

Queríamos silenciá-los para que vivêssemos do nosso

modo sem medo dos latidos.

Mas os cães pareciam não se importar com o status quo

e seguiam em seu ritual noturno querendo ou não chamar

nossa atenção.

Eram cães anárquicos,

cães de guerra,

cães bélicos.

É noite, o mundo deseja dormir e permanecer em trevas.

Desacordar. Mas o poeta continua sua lida.

Ele vê o mundo através de suas lentes, e o traduz com poesia.

Querendo ou não, eles incomodam.

Querem calá-los para que não vos incomodem e continuem

em sua sonolência de baldes, e de bases e de alaridos.

Querem silenciá-los temendo que afetem seu viver voraz.

Mas os poetas parecem não se importar com o status quo

e seguem sua ânsia forte de fazer voz à vez de dizer.

Querendo ou não, chamam atenção.

São cães anárquicos,

cães de guerra,

cães bélicos,

cães alados órfãos de coleira,

mordaças, ferros, contenções.

A noite da manhã poética posterior maior

já há de raiar

neste outro lado no horizonte (bélico?)

sem fim…

Enfim??!!

Para saber mais informações entre em contato pela página no Facebook:

https://www.facebook.com/ExpressaoPoeticaBauru/

Ou por Instagram: @poeticaexpressao

Francimeire Leme. Foto: Arquivo pessoal

Francimeire Leme é Linguista, fascinada por Literatura, Cinema e Fotografia. Militante feminista e revolucionária.

--

--