Ana Laura Carvalho / Instituto Helenas

Na contramão da indústria brechós avançam no Brasil

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Por Ana Laura Carvalho

O brechó é uma modalidade de comércio que tem ganhado o gosto dos brasileiros nos últimos anos. Segundo dados da SEBRAE, em 2023, o país contava com 118.778 brechós, o que representou um aumento de 30% nos últimos cinco anos. O comércio sustentável, que possui base na venda de produtos usados e seminovos, vêm com uma alternativa aos altos valores das peças de vestuário do Brasil que foram puxados pela alta da inflação.

O cenário atual da indústria do fast fashion, sistema de produção que fabrica tendências de moda e roupas de modo muito acelerado e em escala industrial, vem dominando a maior parte do mercado de roupas do mundo. Tais características, no entanto, alimentam um estilo de consumismo não sustentável que incentiva um consumo cada vez mais “rápido” das peças e dos modismos, — eles se tornam fora de moda e antiquados em uma velocidade muito maior com o surgimento constante de novas tendências. tornando-as obsoletas mais rápido por estarem fora de moda e antiquadas de acordo com as novas tendências. Além disso, essa indústria prioriza um custo de produção cada vez mais barato através do uso de tecido, linhas e acabamentos de baixa qualidade para maximizar os lucros, fabricando assim, peças com baixa durabilidade e qualidade para o consumidor.

Na contramão da indústria, os brechós vêm conquistando clientes ao apostarem em roupas de menor valor e valorizar aspectos de sustentabilidade, trabalhando para evitar o descarte indevido de roupas e priorizando, principalmente, a qualidade das peças para garantir uma durabilidade do produto — mesmo que este seja usado. Assim , aliando um custo mais acessível e a qualidade das peças em um empreendimento sustentável e ecológico.

Ana Laura Carvalho / Instituto Helenas

Tem sido fonte de renda de várias mulheres em nosso país, já que elas são maioria na chefia desses empreendimentos. Em Bauru, por exemplo, muitas mulheres encabeçam esse estabelecimento há anos, como é o caso de Ana Maria Rubira, bauruense que desde 2022 chefia o brechó Ana de Copas, trazendo um ambiente agradável e aconchegante para suas clientes na Alameda Dr. Otávio Brizola 2–1.

Ana, que também é formada em comunicação social e já foi professora infantil, hoje dedica parte de seu tempo ao brechó, uma paixão antiga como cliente e hoje como proprietária do próprio negócio.

Confira abaixo a entrevista com Ana, em que a empreendedora conta sobre sua experiência chefiando um brechó:

“A minha realidade é um pouco diferente da maioria das mulheres que chefiam esse negócio pois já sou aposentada e minha rotina com o brechó começa às 14 horas quando o brechó abre e também concílio com os cuidados com meu irmão, mas entendo que para a maioria das mulheres que têm crianças pequenas, uma casa pra cuidar é um desafio conciliar tudo

Ana Maria, proprietária do brechó Ana de Copas

Os brechós possuem uma atenção especial para a curadoria das peças, como é feita a triagem dessas roupas?

“Na hora que roupas chegam aqui e vejo o estado, dou uma atenção a marca, de boa qualidade, bons tecidos,acabamento e costura para entregar uma peça de qualidade aos clientes”

No meio do ambiente atual de tanta conectividade digital em expansão, como você vê essa parceria de divulgação via redes sociais com os brechós?

“Quando eu esta cuidando das postagens eu não estava conseguindo muito resultado, mas quando a social mídia entrou teve um crescimento muito maior pelas postagens todos os dias, programado e por ser profissional que sabe disso também”

Mural do Brechó Ana de Copas Ana Laura Carvalho / Instituto Helenas
Brechó Ana de Copas Ana Laura Carvalho / Instituto Helenas

Já Tabata Santos, que é uma mulher preta, mãe, empreendedora e formada em produção de Moda, abriu as portas do Brechó Afromix em 2018. Ela, que desde pequena já frequenta os brechós com sua mãe, iniciou um negócio sustentável que se tornou referência na cidade de um brechó online, voltado incentivar e dar voz ao afroempreendedorismo .

Tabata Santos Imagem cedida
A marca do brechó Afromix existe desde 2013 e hoje está no segmento online pelo Instagram

Confira abaixo a entrevista com Tabata, em que a empresária relata os desafios de chefiar esse tipo de seguimento no universo digital:

“No meu caso, que é um setor online, é sempre um desafio estar sempre se renovando, atraindo os clientes, fazendo curadoria com o estilo vintage que é o estilo do brechó e manter esse ritmo de curadoria.” declara Tabata

Como é a experiência das mulheres que cuidam desse negócio em relação a dupla jornada, e dos afazeres domésticos?

“ Para as mulheres, é uma loucura porque a gente nunca consegue se dedicar o tempo suficiente para fazer o nossa negócio crescer, pra fazer o nosso negócio ser aquilo que gostaríamos porque temos várias demandas, temos muito pouco tempo para nos dedicarmos e fazer o nosso negócio prosperar”

“ No meu caso, eu possuo uma rede de apoio para que o meu negócio continue existindo,junto com meu trabalho CLT e a criação dos meus filhos essa a realidade de muitas mulheres no Brasil que tem que conciliar isso”

“Mas, para muitas mulheres empreendedoras que não possuem uma rede de apoio, as condições básicas para fazer com que esse negócio aconteça, muitas param pelo meio do caminho”

Sobre o consumo de fast fashion de modo desenfreado, em relação ao consumo de brechó, como você enxerga esse cenário de dualidade?

“É muito importante entendermos esse consumo, da moda sustentável e do fast fashion e saber se aquilo é realmente importante pra mim’’

“Sempre temos que pautar a questão da sustentabilidade , da economia circular em relação aos brechós mas ainda temos muito que trabalhar”

Estamos sempre em uma mutação constante de consumo e os brechós nos mostram uma versão mais atual, mais consciente, com problemas ainda, mas com pessoas e principalmente mulheres engajadas e fortes no comando desses comércios enfrentando o desafio de ser empreendedora nesse país e com uma visão de moda cada mais acessível e mais sustentável em Bauru e no mundo.

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Revisão linguística e técnica por Giulianna Mazzali

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