O sling como parte de uma rotina de exercícios físicos em puérperas: benefícios para mãe e bebê #h15
Por Débora Navarro Kato
As transformações biopsicossociais são inerentes ao período do puerpério. Com o nascimento de um bebê, além da instabilidade física (recuperação de uma cesárea, episiotomia, modificações na composição corporal) e emocional, muitas são as mudanças na rotina dessa mãe, que em sua grande maioria se ausenta do trabalho e estudos, afasta-se de programas de lazer e assume novos costumes mediante as demandas do bebê.
Ao lembrar do meu primeiro ano como mãe, me emociono com a intensidade de sentimentos que não consigo nomear. Ao mesmo tempo que é desamparo, é uma profusão de pele, de toque, de cheiro, de instinto. Ao mesmo tempo que é luto pela mulher que éramos, é uma chuva torrencial de vida que nos inunda.
Quando reflito sobre esses dois anos e sete meses, sinto sempre a sensação-clichê de que tudo passa depressa demais e que nunca nos lembramos qual foi o último dia de uma determinada preocupação. Ela repentinamente se esvai e é substituída por outra.
Assim foi com o processo de dormir da minha filha, ele só acontecia no colo, comprovadamente, o melhor lugar do mundo para um bebê estar; e ali ela ficava, cerca de 24 horas por dia.
Quando já estava delirando de exaustão ao imaginar que assim seria até sua entrada na faculdade, vi a foto de uma mãe com um emaranhado de tecido envolto em seu bebê, surtei, eu e meu recentíssimo passado de não querer filhos nem por decreto, nunca tinha dado a devida atenção àquela genialidade milenar.
Esse pedaço de tecido simplesmente espetacular aproximou nossas peles e corações, e toda soneca ou noite de sono começava ali. Eu carregava menos peso nos braços e tinha minhas mãos livres para fazer pequenos grandes feitos, como escovar os dentes.
Além disso, descobri que o tecido me oferecia outras vantagens, como favorecer a lactação livre demanda, humanizar o cuidado neonatal e fortalecer os vínculos dos bebês com os pais.
Dessa forma, proponho esse autocuidado às mães e filhos de 2021.
Mais do que fazê-los dormir, a característica mais poderosa que o Sling nos traz é mobilidade, ao nos colocar novamente às ruas e aos espaços que estávamos acostumadas, amenizando a sensação de isolamento e solidão, característica desse momento.
Sabe-se que a prática de exercícios físicos está associada a níveis mais elevados de bem-estar geral, autoestima e qualidade de vida. Isso devido a mecanismos psicofisiológicos que melhoram o humor e as autoconsiderações positivas; que influenciam a imagem corporal, a satisfação e aceitação corporal; que possibilitam melhoria da condição física geral, no senso de autonomia e controle pessoal sobre o corpo, sua aparência e funcionalidade.
De tal modo, o processo de aumentar a autoestima e o bem-estar geral das puérperas através de uma rotina de caminhada, as auxiliam a escolherem e persistirem em comportamentos saudáveis, além de atenuar ou eliminar alguns componentes indesejáveis de suas rotinas como exaustão, sensação de isolamento social e sintomas clínicos de depressão e ansiedade passíveis a esse momento de vida.
Caminhar e estar com esse bebê nos diversos ambientes da cidade é uma ferramenta eficaz de sociabilização e encontro de novos pontos de referência que tenham relação com suas atuais necessidades, além de uma possibilidade de redescoberta de novos prazeres.
Aliás, os cuidados com um bebê são uma excelente oportunidade de relembrarmos que os adultos também precisam de padrões de sono saudáveis, de banhos de sol, de uma alimentação saudável, e que talvez nesse momento do puerpério, essa mãe signifique o autocuidado da mesma maneira que cuida de seu bebê, zelando pela totalidade de sua saúde.
Nesse período tão delicado da vida de uma mulher, pequenas sutilezas de autocuidado a fortalecem a seguir uma rotina sabidamente exaustiva, porém belíssima.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Manual do Método Canguru: seguimento compartilhado entre a Atenção Hospitalar e a Atenção Básica. Brasilia. Ministerio da Saude, 2015, 274p. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_metodo_canguru_seguimento_compartilhado.pdf>. Acesso: 20 jan. 2021.
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Revisão linguística e técnica por Julia Mendonça.
