Poesia: “A volta dos desinfetados” #h7
Por Amanda Helena
A VOLTA DOS DESINFETADOS
convulsão banhada em cana moída,
moídos estão os mínimos passos
do ser dominação.
frenesi moderno
nivela à todos na mesma classe
da viagem histérica.
virótica solidão mercadológica,
desinfeta e mascarada,
da máscara visível sobreposta,
a máscara invisível do dia a dia.
presos, tesos, amontoados
em suas caixas protetoras,
olhando com assombro uma antiga mesa
com chaleira e pão.
os ventos do medo varrem
as areias sem memória
das escórias e das clãs
de espectros errantes,
ligados em chips,
shoppings e liquidações.
líquidos tempos, líquidos beijos
de batons duráveis, sem licores
e conversas destampadas de liquidificadores.
homens liquidados
pelo ser microscópico,
pelo ter macroscópico
e pela cegueira das lentes apimentadas.
encerrados ao retorno
dos estranhos de suas casas
desacelerados da tomada 220 capitalista
e ligados ao pânico delivery
da tv na sala, talvez voltem a lembrar
quem eram antes do zumbi-trance
e da praça de alimentação
que fermentava, que fermentava
no estômago cinza dos sem-imaginação.
Amanda Helena é bauruense raiz, mãe da Thais Helena, Talles e Thomas. Bacharela em Direito, atualmente cursa História em Nova Andradina/MS. Feminista, militante, gateira, avulsa de partido, avessa às lacrações, feita na dureza da vida. Libertária que escreve para não surtar, insanamente intensa.