Poesia: “A volta dos desinfetados” #h7

Por Amanda Helena

Helenas
revistahelenas
2 min readApr 25, 2020

--

Photo by engin akyurt on Unsplash

A VOLTA DOS DESINFETADOS

convulsão banhada em cana moída,

moídos estão os mínimos passos

do ser dominação.

frenesi moderno

nivela à todos na mesma classe

da viagem histérica.

virótica solidão mercadológica,

desinfeta e mascarada,

da máscara visível sobreposta,

a máscara invisível do dia a dia.

presos, tesos, amontoados

em suas caixas protetoras,

olhando com assombro uma antiga mesa

com chaleira e pão.

os ventos do medo varrem

as areias sem memória

das escórias e das clãs

de espectros errantes,

ligados em chips,

shoppings e liquidações.

líquidos tempos, líquidos beijos

de batons duráveis, sem licores

e conversas destampadas de liquidificadores.

homens liquidados

pelo ser microscópico,

pelo ter macroscópico

e pela cegueira das lentes apimentadas.

encerrados ao retorno

dos estranhos de suas casas

desacelerados da tomada 220 capitalista

e ligados ao pânico delivery

da tv na sala, talvez voltem a lembrar

quem eram antes do zumbi-trance

e da praça de alimentação

que fermentava, que fermentava

no estômago cinza dos sem-imaginação.

Foto: Arquivo Pessoal

Amanda Helena é bauruense raiz, mãe da Thais Helena, Talles e Thomas. Bacharela em Direito, atualmente cursa História em Nova Andradina/MS. Feminista, militante, gateira, avulsa de partido, avessa às lacrações, feita na dureza da vida. Libertária que escreve para não surtar, insanamente intensa.

--

--