INVEJA DO FALO MASCULINO

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3 min readFeb 29, 2024
Arte: Ana Paula Benini/ Revista Helenas

Por: Ana Paula Benini

“Inveja do falo masculino”, disse Freud. Sim, ele acreditava que as mulheres tinham mesmo inveja do órgão genital masculino e essa era condição que as levava à neurose.

Muitos anos de análise, muitos erros no caminho, violência física e psicológica e cá estou eu. Ainda em análise, ainda arrumando a bagunça do mundo paternalista dentro da minha história, tentando fazer as peças se encaixarem; embora sejam elas todas fálicas, sem uma invaginação sequer para eu montar esse quebra cabeça social e cultural na qual estou inserida. Violentamente inserida eu diria. Num eterno juntar de cacos e estancar feridas.

Entra ano, passa ano e ainda penso na afirmação de Freud. Na época, ele realmente disse isso no sentido figurado, mas penso hoje no sentido simbólico de sua fala e me pergunto: Como não sentir inveja do falo masculino?

Se você observar, verá que o mundo tem gênero, que Deus é homem, sendo que quem gera e dá a vida na natureza é a mulher; que as instituições, que a sociedade, as religiões, tudo valorizam o homem em detrimento da mulher. Vamos mais além. Salários maiores, vida sexual não questionada (a não ser que seja afeminado, porque o feminino sempre é mal visto), andar sem camisa, trabalhar com ambição, não ter tempo para os filhos, promiscuidade, poder de fala, ocupação em cargos de chefia, etc, etc, etc …

O mundo masculino é o máximo para o homem. E nesta linha de raciocínio, eu diria que a inveja do falo é na verdade a inveja do poder do homem na sociedade em que vivemos. Na sociedade na qual crescemos em desvantagem, já ensinadas a nos calar e obedecer, a limpar e servir e agora trabalhar e continuar todo o resto. Só mais um item para os nossos afazeres diários.

Há quem acredite que é um exagero eu afirmar que o mundo paternalista me bagunçou e contrariando essas pessoas, ouso dizer que bagunçou não somente a mim, mas a todas as mulheres que conheço. TODAS, sem exceção.

Mulheres vítimas de abusos na infância; meninas que tiveram que se tornar mães de seus irmãos; mulheres que no divorcio perderam tudo; mulheres que criam seus filhos sozinhas; mulheres que aprenderam a beber patologicamente com seus companheiros; mulheres mortas em abortos clandestinos; mulheres que fizeram abortos na adolescência, mas por serem de classe média e brancas sobreviveram e hoje, machistamente, levantam bandeiras de não ao aborto como se fossem santas; mulheres que engravidaram porque achavam que a maternidade era a única saída; mulheres que casaram casamentos falhos para fugir de pais predadores; mulheres agredidas psicologicamente por suas mães, também machistas; mulheres livres que foram taxadas de vagabundas; mulheres trans que são ridicularizadas todos os dias; mulheres que ao lerem isso aqui acharão tudo um grande absurdo, pois nem ao menos conseguem enxergar mundos femininos diferentes; mulheres deprimidas, com auto estima lá em baixo; mulheres traídas; mulheres que tiveram que abandonar seus sonhos, etc etc etc … É uma lista sem fim.

Freud de certo modo estava certo, também gostaríamos de sermos menos neuróticas neste mundo cão masculino. Mas temos que parar e investigar: o quanto esse machismo é tóxico para o próprio homem? A resposta é óbvia, é hora de mudar para o bem coletivo!

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Revisão linguística e técnica por Mariana Flório Fenerich

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