Forças complexas

Desabafo fora de hora

Rafaela Rita de Oliveira
Revista Literária Mente
2 min readJan 10, 2023

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Frequentemente penso sobre propósitos. Se a existência humana tem um propósito. Se somos quem somos e nascemos onde fomos colocados por alguma razão.

Se houver algum motivo pelo qual eu fui predestinada a encarar os males do mundo e conhecer todos os tipos de sofrimento humano na pele, ou perto dela, eu peço desculpa ao universo por tê-lo causado tamanha raiva.

Indiferente às circunstâncias, estou aqui. Estou aqui com meus pés no chão e meus cabelos bagunçados. Estou aqui com meu coração na mão e pedindo aos céus mais um pouco de coragem pra continuar. Recorrendo às estrelas, horóscopos, músicas, obras de arte e memórias. Implorando por misericórdia a não faço ideia a quem. Meu grito é silencioso, eu sei que ninguém me ouve. Ninguém me ouve gritar.

Desde que eu me conheço por gente, foi assim. Minha existência é e sempre foi estagnada para dentro. Meus gritos, minhas revoltas, meus protestos, na realidade nunca saem de dentro de mim. E toda vez que clamo por salvação, na verdade estou chamando a mim mesma pra mais uma chance. Mais uma vida. Mais um recomeço.

E graças a esses chamados, graças a mim, que me atendo sempre que me convoco, eu estou aqui. Graças aos anjos que o universo me deu em forma de músicas, filmes, livros, animais, flores, seres humanos. Eu estou aqui.

Durante todo o meu silencioso e discreto caminho nesse planeta, eu aprendi a sofrer. Aprendi que eu sou uma força complexa, que sofre, que chora, que clama, que estilhaça e grita por ajuda. E foi assim que eu cresci e aprendi a olhar pra todas as pessoas como forças complexas.

Uma das razões que me fazem querer levantar da cama todos os dias é saber que eu tenho algo em meu coração que me faz querer continuar. Me faz querer mostrar tudo que aprendi para ajudar as pessoas a existirem melhor, a se entenderem como forças complexas.

E essa, talvez, é uma boa definição de ser humano.

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