Pisliklər
Você, escritor
Você dorme e sonha com algum leitor te encontrando no meio da rua e perguntando “mas o que a Lady Katy quis dizer quando falou tô pagaaando?”; você acorda e pensa como seria ótimo alguém ao menos te ler; dessa forma você espera sair e encontrar alguém que esteja lendo o seu livro na padaria enquanto toma um café como fazem os jovens com Torto Arado; você volta para casa e pensa: vou escrever o livro da década; você prepara um almoço furreca (possivelmente miojo) enquanto elabora o roteiro do livro, de ficção ou não-ficção, pois ainda não decidiu sobre o que irá escrever, mas sabe que escreverá.
Você tira um cochilo pós-miojo (com salsicha, o escritor acabou de decidir este detalhe) e fuma um cigarrinho para aboletar as ideias; você se senta em frente ao computador ainda sem ideia nenhuma, e lembra-se das mil e uma obrigações pendentes; você persiste, é forte, resiste a consciência pesada de pagar a conta de luz atrasada e continua tentando escrever o futuro melhor texto já lido por milhares de leitores sulamericanos. Imagine os prêmios que vencerá!
Você escreve um, dois parágrafos; depois de escritos, você acredita veemente que está uma porcaria; você apaga e reescreve, e este ciclo se repete à cada 25 minutos — tempo exato de se elaborar dois parágrafos fuleiros; você olha para a janela e já anoiteceu; você pede uma pizza, talvez um vinho, só para soltar a criatividade; são 20h, a campainha toca, é o entregador deixando o vinho: branco, seco, amarelado; a pizza demora horas para chegar, você já tomou todo o vinho; você adormece no sofá.
Você dorme e sonha com algum leitor te encontrando no meio da rua e perguntando (…)
Errata: 16 é a quantidade de vezes que a palavra “você” surge no texto com apenas quatro parágrafos; esse texto foi idealizado para ser outra coisa, coisa essa que não foi… fluiu de outra forma; sobreviveu à porcaria que foram esses quatro parágrafos? Visita meu perfil, leia meus outros contos e crônicas. ;)
