A premissa do amor é a correspondência

jaisy cardoso
Revista Mormaço
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2 min readSep 14, 2020

quando o vislumbre do meu dia

é o seu corpo nu e amplo

sobre as marcas de insônia do nosso lençol

enquanto as horas se arrastam nos ponteiros

cientes que o amanhã sempre chega

e você desliza sua mão na minha coxa

e ri dizendo que a nossa pele é tom sobre tom

como ficam as nossas frutas favoritas quando amadurecem

e que elas se harmonizam feito o melhor r&b que já te apresentaram

[e fui eu que te apresentei]

e nas pausas estratégicas da sua fala me chama de preta

sem o pronome possessivo porque sabes que sou minha

e que, por isso, eu passeio nessa vida com você

eu fico boba com o charme do seu olho, piscando devagar

e aí você balbucia duas palavras e meia

[“eu amo vo”…]

enquanto sufoca as minhas palavras com um beijo.

antes que eu responda que também te amo

você para, se antecipa, e me diz com enorme certeza:

“eu sei que você me ama”

e mesmo certa da verdade por trás das suas palavras, eu te pergunto: “como?”

e você me diz mais uma vez:

“porque todas as vezes em que nós nos encontramos,

mesmo numa multidão,

e os seus olhos pousam nos meus,

você sorri.

E no fundo dos seus olhos

eu me vejo sorrindo também”.

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jaisy cardoso
Revista Mormaço

escrever é a minha contradição. às vezes, nomeio devir, sempre lhe chamo deleite.