A sua majestade, o bebê

Júlia Grilo
Revista Mormaço
Published in
1 min readJan 18, 2022
George E. Miller

Na escola eu nunca fui bonita. Não me deixavam ser bonita, porque eu era inteligente. Àquela altura eu não me achava nem bonita e nem inteligente mas queria muito sê-los, queria muito tudo, queria o amor irrecusável e absoluto de um bebê. Depois eu fui ficando bonitinha e engraçadinha e por causa disso não me deixaram mais ser inteligente. Continuei sem me achar bonita ou engraçada (e tampouco inteligente), mas não queria ser burra. Eu queria ser tudo, queria ser amada, absolutamente amada, majestosamente amada. As meninas engraçadas eram feias e se antes tivessem sido bonitas de repente se tornaram peludas e desengonçadas como ogras. As meninas engraçadas eram incomíveis. Já as meninas bonitas eram comíveis demais, tão comíveis que ninguém queria comê-las. E as meninas inteligentes? Bem, elas não eram inteligentes, eram só identitaristas.

A despeito disso, em vingança, eu quero tudo — e por isso vou fazer com que todo mundo queira me comer.

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