ALGUMA POESIA

Matheus Peleteiro
Revista Mormaço
Published in
2 min readJun 16, 2021
Banksy’s Homage to Basquiat at the Barbican, London. Photo: Paul Carter Robinson for Artlyst, 2019.

aqui, onde o curupira anda de traz para a frente a fim de confundir a si próprio e se sentir entorpecido antes do fim;
onde nada aterroriza mais do que o silêncio
— desde que não seja o silêncio daquele que escuta;
onde fiéis cultivam suas fés apenas para falar com Deus e ter com quem conversar,
estamos juntos e sozinhos.
cansados, carentes e desnorteados.
todas as conversas são agora monólogos,
o caronte já não suporta os seus passageiros a falar desesperadamente durante a travessia, e
ninguém mais quer mudar o mundo senão por egoísmo.
tenho observado a minha tia depressiva a pedir likes no Instagram,
tenho falado comigo mesmo,
sentido horror ao silêncio da ida ao banheiro sem um celular nas mãos,
ligado para o telemarketing apenas para ouvir uma voz amiga.
sinto saudades, sinto falta.
o amor e a paixão se confundem ao avistar qualquer mera companhia.
escrevo versos e converso comigo mesmo:
“olá, meu eu-lírico, como tem passado?”.
se o poeta é aquele que fala sozinho,
será que o futuro nos reserva alguma poesia?

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