Amor Roxo
Que Shakespeare sabia como ninguém contar uma tragédia romântica, é uma verdade universal. Mas que me dizem as palavras que não me foram cultivadas?
Meu avô espancou minha vozinha com o mesmo livro de poesias que a cortejava. Conquistada a criatura pelos versos vazios e emudecida pelo verbo, ela repetia roxa: “AMOR, apesar de tudo”, e com grande pesar vejo vozinha esquecida pelos cantos.
Em letras garrafais,
manchadas a punho do azul Real, ele dizia:
“se isto não é amor,
desconheço o seu significado”.
A este pedaço de papel ela se agarrava como a última memória guardada do marido.
Só depois de ter me rendido aos seus encantos e ter a sensação de ter sido tocada pelo surreal irrefutável, pela primeira vez entendi porque ela se apegava tanto a esses últimos versos.
ela o amava, pois assim como ele
desconhecia.
e o que desconhecia
era este mesmo amor que
ninguém ousou dizer-lhes com clareza.