Céu de chão
Eu não sabia como se parecia o céu.
O céu não é nada como dizem, mas é verdade que só o descobrimos depois da morte. Embora eu tivesse estado lá muitas e muitas vezes, só com a morte entendi a existência do recinto. Mesmo que nós estivéssemos vivendo em um lugar diferente, tudo parecia girar ao redor desse chão. Um pátio de chão batido, cinza com desníveis que adoravam dedos de crianças. As casas, ao todo cinco, todas ao redor da casa de Maria, porta pintada de um azul-cor-de-céu.
A vizinhança era amorosa como quando lavávamos os pés na mangueira de Nanã ao voltar da vendinha, era caminho de chão de areia, os pés voltavam como tinham ido, sujos e cinzentos, mas o preto brilhava na sandália de dedo quando Nanã pedia para passar uma água nas canelas.
Quando Maria foi embora, eu soube o que era céu.
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