Chronicon, II — O Voyeur Conservador

Oliveira dos Santos
Revista Mormaço
Published in
2 min readMar 31, 2023
Caronte, o barqueiro do Hades, responsável por encaminhar as almas dos mortos.

Pássaros do happy-hour,
O Bar é uma floresta cantarolando bêbada.

Alguém ergue o copo à coisa alguma,
Um balbucio brinda, um colarinho ri,
The evening sings away
ㅤThe labours of the day!
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤPero no mucho…
Que em poucas horas
Um novo dia nos recomeça,
Um dia que nunca termina…

Mas deixemos a Eternidade pra lá,
Aqui e Agora, cerveja e cocaína.

O ritmo apressado,
O coração rompe os estribos,
Os olhos assertivos,
A Certeza é uma torre cônscia
Sobre a vasta paisagem da Colômbia
Mais uma criança inutilmente alienada,
As mãos recentes extraindo o sonho da coca.

Mas a conversa tem lá sua dança…
Fala-se das promessas da Copa.
Que era tudo brincadeira,
Que a moralidade cansa
E a vontade não descansa,
Vai até a outra mesa,
Onde se servem as lembranças
Numa roda entre mulheres velhas.

Ouve-se da espera, das pensões da guerra,
Do som da queda à cova,
Tudo que se repete,
Mas que tudo se renova,
A vida é o dom que gira,
É a reta que entorta,
É a sombra que aprendeu a sorrir…
“E o melhor para as compras da escola?”
ㅤㅤㅤㅤㅤKalunga ou LeBiscuit?

Enquanto ao longe, a noite vasta,
A Lua despetala os raios da Estrela,
Num rio de leite fresco,
Nos banhando, iriado;
Pedra desde sempre a mesma,
Flor-de-luz ao ermo
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤMar noturno
Onde se afogam os passados.

E então, logo à outra mesa,
O alarido chama a atenção pra perto;
O crime, apontar os dedos.
“Mas aqui ninguém tem culpa!”
- Já não acreditamos no Inferno…

(Caronte, camarada, abriu um drive-in em Aruba,
E aonde, uma hora dessas, andará o velho Homero?)

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