cidades

jaisy cardoso
Revista Mormaço
Published in
Nov 9, 2020
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uma vez eu li

que pessoas são cidades

talvez pelo trânsito ou pelos ruídos

e eu concordo.

não há nada que nos defina mais do que

um emaranhado de “encanto e caos”.

hoje eu estive pensando

no que faz duas cidades se encontrarem

num Tempo e num espaço próprio

e eu não descobri ainda,

mas deve existir alguma regra do Universo

que nos organize

e nos leve a desejar conhecer todos os cantos de alguém.

me dei conta que você é a minha cidade

mesmo eu tendo demorando para perceber.

você é o emaranhado de caos onde eu quero residir,

o súbito encontro noturno,

o passeio de barco nas águas desconhecidas,

o mistério barroso da beira,

as mãos-criança tentando diluir o que sobra.

você é um poema acertado,

um conflito previsto,

encanto dobrado,

o que luedji canta “proveito”.

e eu aceito o seu trânsito

paciente, respeito a sua decisão.

[ir também é escolha]

pessoas são cidades porque também ruinam

e ruir é cantar a língua dos lamentos.

pessoas são cidades porque também inundam

e inundar é preencher cada canto com o que se pode oferecer naquele momento.

eu te ofereço tudo o que tenho

mãos lotadas com mapas rabiscados,

linhas tortas,

caminhos que já percorri

e se numa curva dessas houver você

a cidade que sou, imensa,

ainda será porto seguro inteiro

só pra te receber.

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jaisy cardoso
Revista Mormaço

escrever é a minha contradição. às vezes, nomeio devir, sempre lhe chamo deleite.