descanse em paz

Larissa Lima
Revista Mormaço
Published in
2 min readNov 1, 2022
de passagem

I

disse que quero contar
mas só quero cantar
o meu silêncio.
mais agitado que os meus órgãos
que há tempos não comprovo a existência
nem pelas mais duras máquinas.

opto pelas abertas.
não que seja caso de nenhuma fobia numerada nos manuais
é que
o que me salva é sempre o céu
e, portanto, suas cores
já que o céu nada mais é do que um desfile destas
nas quais os meus olhos bailam
convencendo de que vale a pena esperar
 — viva — 
o amanhã.

infinito intocável
que intercede no mundo de corpos
e juízos
perdidos.
só não e nunca parados.

tanto que em movimento
escrevo o meu lamento
batido feito chão de terra
que é firme;
mas racha.

II

e hoje, quem tem lugar no céu?

diante das tantas partículas poluídas que o preenchem
e o tornam quase-sólido;
um céu de pedra com nuvens mastigadas
mas tão azul
colorido pelo peso da revolta escondida.
céu encharcado de si
negando ser o transporte dos sonhos
alegando que a passagem encareceu.

mas tanto o empurram, os teimosos
que de cá foi noticiado
o esburacamento do céu!

no auge da greve
nenhuma migalha sequer
nada do sonho nosso de cada dia
e divulgado então o diagnóstico:
céu desnutrido.

justo aquele que fora acontecimento na vida de tantas.

transe e trânsito
entre
gozos e lamentos
suspiros e soluços
agora mero refém
da própria infinitude.

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Larissa Lima
Revista Mormaço

escrever é como cachoeira que sustenta a própria queda.