dos clichês
todo janeiro faz calor demais e, olha, como faz. fevereiro tem carnaval, we are, a cidade acorda pra ver e segunda, na antevéspera do fim, olha só, meu amor, o sol não aparece. só chove e chove — um erro primário. março tem páscoa, o velho embate da barra ser mais barata que o ovo, discursos do jesus crucificado, a hipocrisia de todo dia exposta no corpo e no sangue de cristo, amém. trinta de abril é o mesmo há trinta e um anos, não sei quando passou a ser o que é, passo por cima. maio é das mães, das noivas, tem presente, movimenta a economia, eles dizem. o santo de nome joão vem em seguida, me irrigo de licor de jenipapo e milho assado, avó batia bolo até outro dia, mas idoso cai e quebra bacia, sabe? ficou frágil, mesmo assim ainda junta a família. tem os leões em julho e eu sobrevivo bem, nunca precisei matar nenhum. agosto tem pais, o meu sempre me dá dinheiro para que eu compre o presente que vou dar pra ele e eu penso “talvez esse ano eu consiga pagar algo, a diferença ao menos”; tem desgosto, dizem. eu só sei que demora. demora mesmo. espero 21 de setembro para lembrar da noite dançando, tem boa nova, andar nos campos, tem primavera, te amo. as crianças entram em outubro, devia ter muita gente aqui. novembro eu só sei do doce veneno do escorpião, do meu oposto complementar. de repente, simone canta que, então, é natal. e o que a gente faz? repete tudo no 20NN + 1.
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