Escrevivendo
Tentou correr, mas as ruas eram de pedra e chovia. Por cautela e se conhecer bem, voltou os olhos para o chão e pôs um pé na frente do outro. Tinha mania de se perder. Sempre achou essa a melhor maneira de entender um lugar novo.
Ali era bem antigo. Mas também era novo. E gente nova e antiga se misturava. E gente que só existia na tela apareceu. É engraçado constatar que gente da tela existe de verdade! Mundo duplo. Mundo doido.
Abraçou pessoas que via com frequência em sua imaginação. Trocou nomes. Reconheceu letras. E dançou ao som do ritmo familiar da infância.
Se expandiu.
Não era tímida, mas ficou. O novo assusta. Também encanta. Escolheu ficar encantada e chorou umas vezes.
O coração voou.
Falou bastante, as palavras estavam por todos os lados e quis agarrá-las e engoli-las com doses de escrevivência.
Depois achou esquisito que tudo fosse tão grande e tão breve ao mesmo tempo. O tempo ficou relativo. E não é assim mesmo?
Agradeceu pela chuva, pelas pedras, pelas gentes, pelas lágrimas, pela desconstrução de expectativas perfeitas e caóticas. O certo está no meio. O que fica é o que se sente.
E eu senti.
*a Revista Mormaço é uma publicação independente, coletiva e voluntária da Mormaço Editorial. você pode nos apoiar dando palminhas nos textos e compartilhando-os. nos encontre nas redes sociais com o @mormacoeditorial.