Espumas

Jacqueline Gama
Revista Mormaço
Published in
2 min readJan 12, 2021
Fotografia de João Regis

A espuma borbulhava em direção a superfície da água. Subia em um rompante de erupção e vivia na borda. Era o contrário de morrer. Ao invés de descer quebrando a densidade, utilizava toda a leveza para ir até o céu de nuvens espumantes. O copo de champanhe levitava de mãos dadas com a magia da atmosfera da taça.

Mas não era o suficiente.

A maré estava distante. Para onde iriam as ondas na miragem do encontro do beberico da lua na água do mar? Será que o céu arrotaria as espumas e desaguaria em areia?

E se eu arrotasse todas as espumas marítimas da minha taça, será que meu estômago viraria continente? Logo eu? Tão oceano?

Atracaria. Terra à vista.

Naveguei em mais um gole. Contemplava o horizonte enquanto o vento fazia meu rosto congelar. Os dois estavam gelados, o vento e o espumante, menos a água do mar. Era noite.

Meia noite e um.

Uma gole, acabei de arrotar. No mar, a areia absorvia as bolhas e hoje já era um novo ano. Já. Era. A Terra acabou de borbulhar.

Espumar.

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Jacqueline Gama
Revista Mormaço

Graduanda em Letras, colaboradora da revista Mormaço, colunista do Soteroprosa.com e autora do podcast ARTE EXPRESSA.