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amélia
Revista Mormaço
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2 min readJul 3, 2023
Ivan Bandura

você leu minhas pegadas e
cortou o mar pela raiz.
das tsunamis à calmaria
me guiou como se estivéssemos
contornando
as margens secas de um riacho

outrora lama, eu te contava
dos incontáveis desencontros
com nomes
mareados, luminosos e
ensolarados.
te dizia que ao final de algum mergulho,
me restavam apenas
olhos vermelhos e bocas secas:
salgados nãos me faziam afundar

já os nomes iluminados,
aqueles que
cegavam o meu caminho
você piscava e me dizia, cuidado com o que vê
miragens e paisagens anestesiavam
pulmões sem ar
mas o preço do oxigênio, eu também te disse outro dia
que não sei
até quanto posso pagar

então te mostrei o meu diário,
e os escritos sobre os direitos
de um prisioneiro:
– um respiro e um banho de sol.
e um grito me fez encontrar
calor
em letras amarelas,
mas logo você percebeu
o quanto eu me apegava às bolhas
de terceiro grau

mas a culpa pelos meus olhos pequenos e míopes,
que só te olham em dias azuis,
você sabe:
encanamentos furados, lentes claras e
âncoras em lagos rasos.
então era isso,
era isso que me fazia transbordar

mas você,
eu jamais te diria
não a plenos pulmões, brilhos nos olhos
e garganta viva
que você, que tem nome de rio
atravessa-me
e em meu delírio me promete
que eu jamais
serei a mesma

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