feito com linha e agulha
escorrega direto pra areia
rala o bumbum
vê o menino chorar
enfia a mão na terra molhada
sente o grão atarraxar na unha
preenche o espaço com sujeira
dá a volta no castelo
corre sem olhar para frente
sente o dente invadir a sua testa
acho que vai ter que costurar
quem me dera ter linha e agulha
costurar as brechas da vida
juntar um pedaço no outro
feito buraco de minhoca
constrói atalhos pelo caminho
pula três casas
perde a vez
aposta tudo
volta pro início cem vezes
arrebenta com o tabuleiro
o que me falta é linha e agulha
gruda minha pele ao vento
costura o ar no meu corpo
deixa ir desfiando
e voa
como uma pipa
não soltei pipa quando criança
não aprendi a segurar o alto na ponta dos dedos
não havia linha ou agulha
a queda é bonita quando não se olha para baixo
mas subir de novo
cansa tanto
queria ter
não somente linha
mas também agulha
ainda que mal costurado
remendaria alguns retalhos
hoje
estou tão cansado.
*a Revista Mormaço é uma publicação independente, coletiva e voluntária da Mormaço Editorial. você pode nos apoiar dando palminhas nos textos e compartilhando-os. nos encontre nas redes sociais com o @mormacoeditorial.