Infarto
Sentiu o coração apertar pela primeira vez lá pelas 14:30h, folgou um pouco a gravata e ignorou a aceleração dos batimentos cardíacos, tentou manter toda a sua atenção nas duas telas projetadas em sua frente.
14:35h o braço formigou um pouco, mas nada que o fizesse sair do seu foco.
14:40h o smartwatch avisou que os seus batimentos estavam fora do comum.
14:42h pegou uma folha de papel e tentou escrever um verso de amor em espanhol.
14:45h sua respiração estava mais pesada e começou a pensar em todas as coisas que deixou pra depois, talvez, por encontrar-se ocupado demais.
14:47h pensou em enviar uma mensagem para a mulher que amou por toda vida, à revelia dela.
14:48h sua garganta travou.
14:50h seu coração parou de bater e caiu no de cara no carpete atrapalhando o tráfego de pessoas.
0h acordou zonzo em uma cama de hospital.
Infartou. Bateu na trave. Quase morreu, mas agora, segundo os médicos, passa bem. Recebeu alta alguns dias depois com várias recomendações de dieta, exercícios e outras coisas. Dez dias depois largou o emprego. Mandou mensagem para a mulher que amava e descobriu que ela já estava casada. Começou a fazer listas: 100 livros para ler antes de morrer; 40 coisas para fazer antes dos 50 anos; Plantas para ter em casa antes dos 35. Cansou da cidade. Cansou de morrer um pouco todos os dias. Havia encontrado a morte e não gostou da experiência. Conheceu uma pessoa nova e deixou que essa pessoa o conhecesse. Montou um hostel em um canto qualquer e agora em seu tempo livre escreve cartas de amor enquanto observa a sua companheira pintar. Se sente vivo pela primeira vez em 30 anos de América do Sul.
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