Lições da Paciência
É preciso abandonar a infância do coração.
Reclamar o instante que a névoa açoita de sede.
É preciso retomar a infância do coração.
Quando nos olhos cristalinos o passado se dissolve
E fúlgido
E só
Teu rio corre ardentemente.
É preciso restaurar os passos,
Banhar os calcanhares cansados
Das estradas turvas, das estradas da morte,
Onde o sepulcro do Sol congela o orvalho
E as pedras secas lamentam
O consolo impossível:
O eclipse das marés abandonadas ao pórtico distante.
Mas agora,
Sob essa luz de âmbar,
Esse céu fundo de ônix,
Deixa que nos cubra a Noite.
Deixa. Porque giramos.
E é como o carrossel opaco,
No centro de uma sala deserta
Povoada pela cinza, pela poeira,
Cintilando na luz que escapa
De uma fresta na porta mais baixa.
— Deves curvar-te para atravessá-la.
E por mais que nos chame essa porta bonita,
Por mais que essa sede só seque em seu leito,
Deixa que nos cubra a noite.
Que a Lua chegou para cuidar do teu sono.
Saber esperar também é motivo de muito contentamento.
*a Revista Mormaço é uma publicação independente, coletiva e voluntária da Mormaço Editorial. você pode nos apoiar dando palminhas nos textos e compartilhando-os. nos encontre nas redes sociais com o @mormacoeditorial.