não tenho mais sonhado
não tenho mais sonhado
com aqueles bichos
com o falcão rasgando
o topo do céu
com o cachorro me seguindo
pelo terreno baldio
com a formiga gigante invadindo
a cozinha da minha infância
agora
há duas aranhas
no teto do quarto
não tenho mais sonhado
com aquela tsunami
da qual eu fugia
acordando sempre antes
do impacto
agora o mar
está distante
banha uma filha
que não é minha
não tenho mais sonhado
com aquelas casas
na pandemia adentrei
um labirinto de cômodos
dos tantos lugares onde morei
na vigília no onírico
na palavra
agora
a casa cava
profundamente
a terra
no alto da montanha
seguro um cachimbo com minhas mãos
de menina
fumo devagar e assim
sou presenteada
com fios brancos
e rugas
não, não tenho mais sonhado
com o que eu sonhava antes
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