No tempo em que corrias para os meus braços, Jesus

Marcelinorodrigues
Revista Mormaço
Published in
2 min readFeb 13, 2024
Jesus Pantocrator

No tempo em que corrias
para os meus braços, Jesus
quantos sorrisos trocávamos de alegrias
E agora te olhando aos trambolhões
com essa cruz sobre o dorso
mal consigo respirar
sofrendo contigo...

Essa coroa e esses espinhos
também me afundam a carne
e me ferem, Filho
me ferem, pois senti teus pequeninos chutes
de Deus-menino, em mim, por dentro
em meu ventre
- e essa agora de Deus-menino?!
se te vejo é assim
franzino, magro, magrinho
despedaçado, a carne em farrapos
barbudo dos desertos
tão coitado, tão meu filho
(e agora mais que nunca)
deixando o sangue
- que também é meu! -
pelas paredes e pelos monturos
em que esbarras nesta Jerusalém

Teus olhos banhados de sangue
me veem ainda, Pequeno?
Não, não faz esse esgar de dor
que ele me dilacera a alma
- e ainda me chamam de bendita...
se não me respeitam e me obrigam
a olhar minha cria
carregando dois toros de madeira
para salvar um mundo condenado
para todo o sempre

Se teus cotovelos estavam machucados
eu os beijava;
teus joelhos, Traquinas
quantas vezes limpei seus arranhões
com estas mesmas mãos
que ora tentam abafar o choro
de uma mãe que vê seu filho
sendo assassinado aos poucos...

Por que, Piá, não renunciaste a tudo?
e foste só um nazareno, como teus irmãos?
Por que, por amor a mim, e não ao mundo,
não casaste e tiveste meus netos?
sem grandes intrigas,
sem ajuntamentos perigosos
sem contendas com comerciantes, romanos e rabinos

Sem ter que salvar um mundo todo para além da Palestina!

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