o limiar das fendas

douglas laurindo
Revista Mormaço
Published in
1 min readDec 1, 2022
Esta imagem, feita à mão por Paulo Gersino, artista visual manauara, é uma representação das relações entre o corpo, a violência e o verbo. São três figuras andrógenas interligadas por um mesmo fio corpóreo e visual.
arte de Paulo Gersino /@paulogersino

e como eu caminhasse
por aqueles pátios líquidos
de violência falada,
algo inesperado se via:

a fenda é o espaço
estreito no qual o fio
morte e vida termina.

a fenda é onde a luz
surge como lamparina
em oceano inexplorado.

dentro dela, recolhidos,
há enormes navegantes
com seus braços em desuso.

observam a imensidão
das águas, do céu, da alma
recostadas a mil vãos.

no submundo de feridas,
a ventania os obriga
ao abraço retilíneo.

não se cansam, porém,
de a cada jogada nova,
amontoarem-se todos:

há de se acreditar
no monte de vida que,
justo, romperá o limbo.

O poema acima integra e dá título ao livro O limiar das fendas (Urutau, 2022).

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douglas laurindo
Revista Mormaço

é professor de língua portuguesa, escreve, edita e dedica à pesquisa.