O ponto que o (amor?) deixa de estar.

Izabelly Lopes
Revista Mormaço
Published in
3 min readJun 9, 2022

Esse é, possivelmente, o texto mais difícil de desenvolver que senti a necessidade de escrever. Mais do que todas as redações do ENEM que fiz muito porcamente no meu ano de vestibular. Mais do que todas as cartas que escrevi ao meu pai no seu aniversário. Juntar algumas palavras e pontuá-las sempre me pareceu bastante divertido – fluir por linhas e linhas não é um problema pra mim. Hoje, entretanto, passei alguns bons minutos escrevendo e apagando. Falar de amor é legal –quando o amor é abstrato, de papel, de rima e prosa. Porém quando o amor é real, de carne e osso, de cama e briga, de chegada e partida, nada se encaixa muito bem. Desde o dia em que um conhecido me perguntou no instagram se eu estava solteira e eu acabei achando que já era o momento de dizer que “sim, mas está tudo bem”, vivi experiências únicas on-line. Conversei com mulheres na mesma situação que eu. De algumas, recebi todo o apoio possível; com outras, tentei dar todo o meu apoio possível. Algumas vezes, fui questionada sobre como eu estava fazendo pra superar. Nesses momentos, queria ter um tutorial pra copiar e colar na esperança de ajudar. A grande verdade é que nem eu sei como. Chorar na terapia, comer demais, vomitar demais, me isolar, assistir todo o catálogo do Netflix, me distrair com meu trabalho e com a faculdade, me aproximar de mulheres fortes, sair com meus amigos, xingar, cantar alto, dormir cedo, não dormir. Fiz tudo isso. E, ainda assim, acho que, mesmo que eu tivesse feito diferente, estaria superando também. Sabe por que? Esses dias, estava conversando com minha melhor amiga por mensagem e, enquanto ela me contava do seu recente término, eu digitei: “a gente tem um grande problema em colocar ponto final, né?”. O amor coloca suas vírgulas, reticências e pontos finais com grande facilidade. Histórias terminam e começam. Eu acredito que a gente não faça isso com a mesma frequência. Acho que estaria superando mesmo se tivesse passado os últimos meses na cama, porque estaria vivendo, vendo o tempo passar, escrevendo minha vida. Sem ponto final, mas escrevendo, me distanciando cada vez mais dessas linhas mal definidas. E a gente faz isso pra todas as situações de luto: nos distanciamos, deixamos a dor se tornar passado. Não colocamos um ponto em cima dela. Mesmo sem saber, respeitamos sua existência e seguimos a escrita. Um dia, se torna só mais um amontoado desencaixado de palavras que não vale a pena ser lido cautelosamente de novo. Eu sei que acabou. A cada minuto que passa, você está indo embora desse ponto. Preencha seu tempo, sua história, sua vida. Quanto mais você escrever, mais longe estará. Quando menos perceber, todo esse amor, essa dor e essa pessoa serão realmente o que são: um pontinho que ficou pra trás. E a gente? A gente segue sem finalizar nada. Porque a gente não precisa.

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