outra pele nossa
uma fragilidade acontece
toda vez que uma
palavra nasce
antes de escrever, desista
no começo, um silêncio
uma sílaba miúda
carregar um alfabeto no teu dorso
deslizar o verbo pelas tuas costelas
são mais frágeis as primeiras horas do dia
(os segundos antes de abrir os olhos)
a pele ainda não se esticou
outra hora frágil acontece quando vocabulário
não há mais nessa língua
(palavra: um olho fechado)
uma pele esticada
há um pequeno abandono
os pássaros dessa cidade morrem
ainda sou a que corre
atrás das pilastras
com as mãos vazias
fazer da palavra casa
ainda que nossa língua
seja tão frágil quanto
olhar o fundo de um olho
tinha uma existência rala e fina
a transparência dos ossos
a pele uma agonia aguda
viver, um corpo que dói
no norte, é pra onde
nego as vertigens
antes de você tudo é véspera
escolher o menor nome
das coisas
inventaremos uma célula
sem tirar
as mãos do fogo
você não mora mais aqui
diga, dessa vez meu
soluço é mais contido
te quero aqui feito um
plano de pouso
a poesia é algo muito frágil
como eu e você
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