Pêssego

Tatá Noel
Revista Mormaço
Published in
2 min readDec 15, 2023
charlesdeluvio

Chega essa hora e eu sinto o gosto do pêssego entalado na minha garganta. Fico sentada na cama porque sei que o sono não vem por agora. Se eu deitar antes da hora, tenho refluxo. É irônico, mas o doce do pêssego deixa meu estômago ácido. Acho que me empolgo e exagero na fruta. Um pêssego devia bastar. Mais que isso, dá azia. Me conta então como estão as coisas… se vai tudo bem. Deixa eu ouvir você dizer mais uma vez que lembrou de mim. Estou gostando, pode continuar. Pensei em você também. Vamos, aceite meu carinho. Aproveita que eu tô mansa hoje. Mansa como a pele do pêssego, suave. As mordidas são fáceis quando ele está maduro. A polpa colabora. Será que você também colaboraria se eu te mordesse? Dá água na boca só de ver um pêssego, não acha? Tem sede que água não mata. Mas é pra desconfiar quando a gente dá três mordidas e ainda não achou o caroço. Um pêssego sem caroço não existe. A conversa estava boa, mas eu esqueci que estava com dor de dente. Quando achei o caroço, magoou. Eu, não o caroço. Caroço de pêssego além de áspero é duro. Tá magoado, melhor mesmo é dormir. Bom falar com você. Beijo, até mais.

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