pela janela
Escrevo à janela
Algo pequeno
Invisível
E maciço
Que se vai.
Vai embora,
Não tenho tato
Para o escuro.
Não há corpo
Que suporte a teia,
A aranha feia,
O sufoco da sombra.
Vai embora,
Não me reconheço
Debaixo do leito
Alheio.
O monstro não está,
Não estou em mim
E não seria eu o monstro
Sem este buraco negro
De falsaria.
Vai embora
distorção da imagem,
emaranhado de impressões sem digitais,
vaso abandonado,
terra de ninguém.
É tudo mentira
Que não contaram.
mesmo assim
veio turvo,
atravessou verdade.
Vai embora,
aperto de nó cego,
capa de chuva sem chuva,
pedaço de coisa alguma.
Desenovela
O peso
Vai embora
Certeiro
que o ar é o lugar correto
de tudo mal vivido.
Dentro
não se acomode
coisa infundada
do monstro debaixo da cama
que não sou.
Silencioso
sólido
derrete
a coisa feia
que não deveria ser.
Vai embora
Expandindo
Esvaindo-se.
De dia é culpa
De noite, todo o resto.
Vai embora, eu fico.
Sossegada
sozinha
à janela,
as casinhas,
o vento,
nada
e ninguém.
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