Por Helena ou Em busca de uma Troia
No líquido breu se encontram
os bravos varões da nau
e é Odisseu o anão quem comanda
o movimento suado
dos trinta guerreiros, armados,
em seu estreito barco
Balançando entre as vagas
do escuro domínio de Netuno
vai eivada a vela
de homens sedentos
de honra sedentos
de sangue sedentos
de carne sedentos
de outros homens:
- Haveremos de matá-los!
- Aqueles fortes…
- Aqueles viris…
- Haveremos de matá-los!
- Suas queixadas duras…
- Seus pelos hirsutos…
- Seus músculos de Troia…
- Seus lábios de moça…
- Mais bela é Helena!
- Precisam morrer, antes que…
- É isso!
- Partamos para a carnificina.
Odisseu, contudo, haverá de calar
esses pormenores espúrios
da gente masculina
e não chegarão aos ouvidos
de Homero de Esmirna
essas intimidades pouco heroicas
de gregos e troianos
Mas o cego verá,
com as lentes da perspicácia,
quantos olhares se trocam
quantas mãos se esquivam
(Mais bela é Helena!)
quantos suspiros se abafam
dentro do magnânimo cavalo
As mãos de Homero não escreverão
tampouco seus lábios repassarão,
por baixo dos austeros bigodes,
as vilezas do impossível sexo
Que quase pôs tudo a perder
não fosse a interposição de Zeus
entre a imprudência de Heitor
e a impudência de Aquiles
Afinal: “guerreiros com guerreiros
fazem zigue zigue zá”.
(nov.2011)
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