pulando de boca em boca

Pollyana Siringe
Revista Mormaço
Published in
2 min readMay 16, 2022

pulando de boca em boca (de baleia)

Podemos experimentar forma mais prosaica, contudo a paixão é prolixa. Apaixonada por baleias desde os tempos de escola, eu tinha uma queda por bonzinhos espaçosos misteriosos, sem vírgulas. Um ponto único como grandes rochas empíricas, sem dedo de artista ou mão de mãe. Mães de baleias são baleias mães, parecem distantes em mar aberto, sempre juntos em correntezas. Queria ser filha de bá, e eles, seus filhos, me apareciam. Um animal preferido não necessariamente é desejável ter em casa, onde cabe uma baleia? É preciso um aquário gigante com água salgada e espaço de respiro. Não cabe em residência. A baleia navega, claro, não cabe em residência. Em oposição, eu sou o lado que entra na boca, sim, oposição, como os polegares.
Sinalizo o desejo e pego carona, passeio ao seu lado enquanto ela desbrava continentes e quando entro na bocarra, espaço acolhedor e quentinho, elas me comem. Quero mesmo é ser baleia.

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Pollyana Siringe
Revista Mormaço

Prêmio Maraã de Poesia 2020. Siringe — Ed. Reformatório 2021. Colaboro nas Revistas Mormaço e Fazia Poesia.